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Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Qua | 18.07.07

Falta de Educação

Fátima Bento

Hora de jantar, família ( 8 ou 9 pessoas) à volta da mesa, crianças mais ou menos pequenas, daquelas que ou 500% de atenção  ou nada (próprio dos seus 2 anos e meio). Restaurante chinês - que ainda os há bons e de confiança. Motivo: um rapazinho fazia 11 anos, senhor de si e de ser “maior“, cansado das actividades de férias, mas a receber a sua parte: naquele dia, especial(mente) para ele, a homenagem de todos.

 

Hora do bolo, canta-se a cantiga da praxe, o pai brinca com ele e dá um piparote mal dado, que lhe acerta na vista. A criança sopra as velas e debruça-se sobre a mesa agarrado ao rosto.

“Pronto, pronto, lá vem ele, lá temos fita”, diz o pai enquanto levanta os olhos aos céus.

“Bolas pai, que raio de brincadeira, aleijaste-me!”

“Não sejas nhec-nhec, que não te aleijei.”

E mete-se a mãe, virtualmente entalada entre as duas cadeiras:

“ele não está a chorar, está só a ver se lhe passa a dor”.

E refuta o pai “bem podes chorar, que a noite para ti acabou(não se apercebendo que estava a confinar os restantes ao mesmo fado)!

E diz a mãe: “Parte a primeira fatia e eu parto o resto". Fatia partida, prato 'veementemente' assente na mesa.”Pronto!”, entre lágrimas de raiva.

“Sai da mesa” - diz a mãe.

"Vai para a casa de banho chorar, lavar as mãos e a cara, e quando estiveres mais calmo podes vir sentar-te na mesa", vocifera o pai.

Rechaçou a tentativa de mimo da irmã (que isto quando se está mesmo enervado, vai tudo à frente), e lá foi chorar para a casa de banho.

 

a. Pianno,

b. Allegro,

c. Vivacce,

d. Molto vivacce

Nesta altura entre os adultos que tentavam entabular alguma forma de conversa que relegasse para segundo plano as “fitas” da criança e do pai, que insistia em vincar a situação (situação em que levaria, óbviamrente, uma valente reperimenda quando chegasse a casa, não fora todo o mis-en-scéne que se gerou, e que elevou os batimentos cardiacos da mãe quase ao Evereste). Neste entretanto, e aquando do molto vivacce, começa a irmã a implorar à mãe “vai lá tu, que quando ele está assim, eu não consigo acalmá-lo…” “e eu consigo? Ele está num crescendo, só quando o tom começar a diminuir é qe me deixa fazer qualquer coisa!”. Levanta-se a sobrinha mais nova (27 anos, dois filhos), e dirige-se á casa de banho, com a tabuleta “já que ninguém quer fazer nada…” pendurada no nariz, agora empinado. E, hole and be hold a criança sai de lá calma, com todos a destilar stress, e cheios de pressa de sair dali.

 

Reumindo:

 

Se, e só se:

þ o pai tivesse dito “desculpa, foi um acidente, não te queria magoar”, (que todos disseram, menos quem lhe interessava que o tivesse feito);

þ Se lhe tivessem deixado exprimir a dor que sentia sem comentários;

þ E a mãe tivesse deitado as tradições às urtigas, e tivesse ela tirado a primeira fatia do bolo;

Tinha-se poupado GRANDE parte de todo aquele embaraço.

Eu sei, não porque estivesse na mesa ao lado a acompanhar o sucedido, mas porque eu era a mãe da própria mesa.

Chegados a casa, havia A prenda da mãe e do pai a entregar. “Vai chamar o teu filho, para lhe darmos a wii” Não quero conversas com ele, dispara de nariz ao alto.

 

Assim, saco da fnac no meio da sala, “meninos!” aponto com um gesto, tirou de dentro, abraçou-me com força “obrigado”, abraçou o pai que se deixou abraçar por umas fracções de segundo, estacou a olhar para mim “anima-te, mãe!”, “ não estou desanimada filho”, digo com cara de enterro, e agarra-se a mim a chorar. “Pronto, vai lavar os dentes e até amanhã.”

Foi na segunda-feira 16, ainda tenho um buraco no peito. Ele, já joga wii, e vem-me dar beijinhos e dizer que gosta muito de mim como tu me costumas dizer, sorri.

O pai mantém-se irredutível, 'que teve toda a razão, que teve muita sorte em não lhe ter arreado à frente de todo a gente, e por isso se sente orgulhoso'. Não é argumento que o 11º aniversário da criança ficou marcado, au contraire, "espero bem que nunca ais se esqueça". Está magoado, e não perdoa (?!?!).

E eu… eu pus o meu coração dentro do congelador, e desde segunda-feira à noite, não sei sorrir.

Fátima

P.S.:  Comentários...please...