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Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Seg | 04.07.05

RESILIÊNCIA

Fátima Bento

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Devo ter alguma, e devo ter adquirido a mesma no útero, caso contrário, devo twla escondido tão bem que a minha mãe não a descobriu para ma tirar, como quase todo o resto. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />


Não gosto da vida que tenho.


Já pensei, quiçá escrevi que gostava que esta vida fosse um casaco que se despisse e pendurasse num bengaleiro, ou então num cabide e arrumasse num armário.


Ah-ah! E depois? despia esta vida e depois?


Depois fazia férias. Pedia outra vida emprestada, e ia dar umas voltitas com ela, só para ao fim de algum tempo (não tanto quanto isso) descobrir que não, não servia também. Porque não existe nada ideal, só aquilo que nós fazemos por ser o nosso.


Então, voltaria a vestir esta vida, e continuava a lutar com a delicadeza que as coisas frágeis nos pedem, e resgatava todo o carinho e ternura que o meu coração parece ter perdido, estendia-as em cima da mesa, alisava-a bem com as mãos, cada cantinho, para que nem um único mm2 ficasse por ser tocado. Se fosse caso disso, ia buscar o ferro de engomar, e, na temperatura mais baixa, trataria de acabar com algumas rugas teimosas. Depois, então, pegaria no meu coração com cuidado (que os corações são coisas muito delicadas...) pô-lo-ia bem no centro da ternura e carinho recém alisados, embrulhá-lo-ia neles, e voltaria a colocá-lo no lugar dele, já livre de rancores, tristezas, e amarguras.


Assim.


Um recomeço.


E depois, no final do dia, quando aquele que eu escolhi para mim pelas razões que conheço, e de que ainda não me esqueci (embora às vezes pareça) chegasse a casa, recebê-lo-ia com um abraço grande do tamanho do meu coração recauchutado, e mostrava-lhe que ainda sei ser o positivo de que ele já não se lembra, e por que se apaixonou, e provar-lhe-ia que, ao contrário do que eu lhe disse há 2 dias, ele ainda me ama, apesar de tudo aquilo que ambos desejávamos que eu fosse e não consigo. E mostrar-lhe-ia que o amo daquela maneira que ele já nem se lembra, e deixaria de usar o raio da medicação como muro atrás do qual me escondo.


E recomeçava.


Assim, de coração afagado, aninhado, mimado, dividia o meu tempo entre o que tem que ser, entre o que não tem, mas dava jeito, deitava fora tudo o que é perder tempo e nos enche o dia como ervas daninhas, e voltava a brincar com o meu filho, e voltava a conversar com a minha filha, e deixaria de ouvir "ó mãe, se não estiveres muito cansada..." ou " mãe., não te passes, mas...", e depois, cansados de tanta maluquice, beijinhos e abraços dados, depois do xi-xi-cama, aconchegar-me-ia à minha "ametade" como já não faço há tanto tempo, e adormeceria, sem medo de começar o dia seguinte.


É possível.


E é agora.


Fátima


P.S. Não resisto, e vou pôr este texto também no umbigo...

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