Pois é, isto acontece-me cada uma...
Ontem estando eu no trabalho – carregadinha de jet-lag depois de ter fechado na terça-feira e chegado a casa depois da meia-noite, e, acto continuo, ontem ter aberto o estaminé, pelo que tive de sair de casa às 6:30h – às tantas, entrou um indíviduo de étnia cigana. E começa:
« Ê já cá estive antis, aqui c'o sê patrão e a sua colega de óculos qu'hoje não está, e o sê patrão até me ficou com um maçito, eu sou o **(não me lembro do nome), filho da Rosa cigana, assim uma cigana forte, que tem uma banca de meias no mercado da Torre da Marinha, e ando aqui a mostrari umas coisas, que lhe vou mostrari sem compromisso, 'tá bem?»
E eu sem abrir a boca, só mesmo os olhos, qu'aquilo tudo dito de uma assentada é dose, e interromper é difícil (e nem eu tinha presença de espírito, de uma caminha é que eu precisava, agora de um par de meias!...)
O homem sai, «vou só ali à carrinha e volto já, 'tá bêim?», e o meu patrão eclipsa-se escada abaixo. 'Ai qu'isto vai ser lindo, vai', penso de mim para comigo...
Ora a criatura lá volta, saquito preto de asas na mão (vá lá, de tamanho razoável), e saca de um pack de meias. Alego que não tenho gente em casa com pés daquele tamanho. Esperto (jura?...), lança mão a um pack de meias de homem, espeta-mas na mão, enquanto elogia a qualidade da coisa. Eu vou balbuciando '...mas eu tenho tantas meias em casa!...', mas ele não desarma, e pespega-me com mais um “ai, olhe a cólidadi!” E eu continuo, perdida entre argumentos, 'não posso agora', 'não preciso', e ele “aprochega-se”, e diz-me perto do ouvido, «ouça, ê ainda ná acabê de falari, mas você nã pode dizer isto a ninguêm, p'a sua rica saúde, mas se levar dois ainda lhe ofereço um tercêro, mas não diga nada a ninguém...» e rebéubéu pardais ao ninho.
Decido tomar uma atitude firme e acabar com a lenga-lenga
“- Olhe não posso, agora não posso, quando precisar vou à banca da sua mãe e compro!”
Não estava eu, qual touro na arena, preparada para a estocada final...
O homem lança as duas mãos à cabeça, desata a chorar “ai, qu'eu tenho que dar de comeri aos mês filhinhos, isto é para lhes levar umas bifanas, ai qu'eles vã passar fome, e eu não 'tou a roubari nem a fazer mal a ninguéim, ai os mês filhinhos...” e eu ali, com os três maços de meias na mão, meto a mão ao bolso, saco dos únicos dez euros que lá estava, e que coincidentemente era o valor que ele pedia, e meto-lhe a nota na mão. “Ai, muito obrigada, dês nosso senhori lhe dê muita saúde a si e aos seús”, E ZUCA, lá foi ele porta fora, e lá fiquei eu com 9 pares de meias a mais e dez euros a menos, a maldizer a minha sorte, e sem saber se ria se refilava... bom, o que vale é que há 8 pés cá em casa (agora vamos ver como passam o teste da máquina de secar... as meias, não os pés, é bom de ver...)
Palavra de honra, eu já fiz um curso de técnicas de venda, mas isto de desatar a chorar de mãos na cabeça, não constava no curriculo. E resulta – ó se resulta!
Resumindo e baralhando, ainda me fartei de rir a contar ao meu colega – o do “devias-ser-vai-lá-vai”- depois à minha filha, e à noite, ao marido. Foi uma gargalhada pegada!
Acho que tanta gargalhada até valeu os dez euros. E de bónus, ainda ganhei 9 pares de meias!
(Acontece-me cada uma!)
Enfim...
B'jinhos,
Fátima ![]()