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Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Qui | 04.06.09

Filme de terror

Fátima Bento

(quem for sensível e/ou tenha medo de ir ao dentista, não leie...)

 

Pois e ontem, estava aqui a menina muito bem na sala... 'per'aí...uma estória começa-se do  início...

 

Nasci com uma deficiência de calcio e com outra coisa qualquer que fazia com que o esmalte não agarrasse aos dentes... de maneira que, durante a minha infância, broquei muita cárie (na altura não usavam anestesia), e arranquei alguns definitivos... e como os dentistas na altura eram todos uns amores, principalmente o meu, e tinham assim um talento especial para lidar com crianças, eu tinha pavor do dito. Lembro-me de uma vez (foi a última...) de estar a extrair um molar - naquela altura davam a anestesia e mandavam-nos para a sala, até a mesma fazer efeito, e ou não pegou, ou o cliente atendido durante a espera demorou demais, a verdade é que doía. E o sacana do dente estava teimoso, e não queria sair. E era a assistente a segurar-me a cabeça, o homem com o pé no braço da cadeira  (juro!) a fazer força com o alicate, e eu numa berraria infernal. Acabaram por chamar a minha mãe para me segurar, que eu parecia um polvo...

 

Ou seja, mudei de dentista.

 

Mudei para uma dentista muito querida na Av. da Républica, e sei que lhe dei algum trabalho. Mas eis senão quando, aos 12 anos, os meus dentes começaram a desfazer-se em pó. A gente passava o dedo, e ele vinha cheio de pó branco. A D.ra encostou às boxes e disse que não podia fazer nada por mim, e que a hipótese de tirar os dentes, e pôr uma prótese - era a minha deixa para dizer: só com anestesia geral! - era inviável: em 30 anos, as gengivas mirraríam, e aos 40, não haveria prótese que se segurasse. Só havia uma solução, morosa, cara, e que tinha que ser aceite por mim, porque sem a minha total concordância, não era fazível. E só havia um médico a fazer esse trabalho.

 

Lá marcámos a reunião com o dito, e a primeira coisa que ele me disse foi: eu não sou um tipo simpático. E depois explicou-me o processo a ser feito. Ah, pois claro que não! Mas ele lá me convenceu a "experimentarmos para ver como nos davamos um com o outro". Guardou-me uma manhã de sábado, e gritei que nem uma desalmada o tempo todo. O homem, que "não era simpático", com todos os cuidados - até conseguia dar anestesia sem doer! - e "se doer levantas o braço que eu paro" e eu levantava e ele parava... ou seja, os sábados passaram a ser meus, e nunca mais gritei. Tinha uma confiança cega no médico, e ele merecia-a inteiramente. Foram tratamentos de 4, 6 horas, a desvitalizar - há 30 anos a desvitalização não era corriqueira como agora - os meus dentes todos, até os cisos foram desvitalizados antes de nascer, quando tinham só uma pontinha de fora, cirurgicamente (ora, estão a ver, os meus cisos apareceram por volta dos 17, 18 anos, portanto estamos a falar de pelo menos 6 anos de trabalho...). Depois da devitalização feita, era aplicado na raíz uma coroa em ceramica. No lugar em que definitivos tinham sido extraídos, era colocada uma ponte - uma pequena prótese fixa em que um dos dentes ficava "suspenso". A minha boca ficou pra cima de um dinheirão - a minha mãe parou de contar nos 2000 contos = 10 000 euros. E o tratamento estendeu-se ao longo do tempo, já com a aminha filha nascida, bébé de colo, a termos de interromper uma cirúrgia para eu amamentar...

 

E depois, deixei de ter "motor" para suportar a continuação do tratamento - hoje teria uns quantos implantes, e uma prótese fixa, mas financeiramente não pude ir por aí. Por isso, aqui há pouco mais de uma meia duzia de anos as coroas começaram a cair, porque a raíz deixou de suportar a coroa. E acto continuo, extraía a raíz. Acabei por pôr uma prótese móvel completa no maxilar inferior, e uma esqulética no superior. Até que, uma ponte de quatro dentes - que apanhava um dos incisivos da frente, caíu. E tive de passar da esquelética para uma prótese normal, não completa, porque uma outra ponte de quatro dentes resistiu heróicamente.

 

Agora um àparte: passar de prótese fixa para móvel é traumatizante. A gente aguenta - também já utrapassou tantas situações na vida, que desdramatiza a coisa. Mas, psicológicamente, custa como o caraças!

 

E - agora sim! - ontem, estava aqui a menina muito bem na sala... e cai a última ponte. Bem, a menina ficou verde. E ligou para a dentista. Passada meia hora já lá estava. E depois de fazer os moldes, começou o filme de terror.

 

Para abreviar a coisa, e não deixar ninguém mal disposto, a anestesia doeu c'umó raio. Era ela a espetar e as lágrimas a caírem. Depois foi a extracção de três - TRÊS raízes, que se partem todas quando lhes tocam. Litradas de sangue, vai de aspirador e jactos de água, que ela não conseguia ver nada. E eu tremia, tremia... e ela lá foi escarfunchando meio às cegas, e o sangue espirrou-lhe para a bata, para o meu braço... 30 minutos depois lá cozeu o trabalho, e eu paguei quase 400 euros. Tremia-me tanto a mão que respirei fundo antes de começar a assinar, e não me resposabilizo se o banco recusar o cheque devido à assinatura estar esquesita... mas não recusa, quando muito telefona...

 

Foi mesmo um pavor. O Vitor bem me perguntou se eu queria que ele entrasse comigo  e eu que não era preciso - parva! Se eu soubesse o que me esperava... - quando saí, do consultório, o homem caíu-lhe tudo ao chão, que eu estava com um ar super assustado. Lá teve de parar num café peara me comprar Calipos, mas mesmo assim, esta gaita tá difícil, que por ter falado agora um bocado com a Inês, já tenho outra vez uma hemorragia no céu da boca... porra! Ela está-me a fazer um batido de morango com montes de gelado e cubos de gelo, para ver se a coisa vai.

 

Logo vou colocar a prótese - yá, em cima dos pontos e desta gaita toda... só de pensar...

 

A ver vamos se não me dá a travadinha, que eu só me seguro em pé por curtos períodos de tempo... deve ter sido pela quantidade de sangue que perdi... e vou perdendo...

 

Fogo!

 

Ah, já desabafei.

 

Mas é mesmo assim: a gente a pensar que vai ter um serão normal, e tunga, uma cirurgia de urgência.

 

Vai buscar!

 

 

2 comentários

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    Fátima Bento

    05.06.09

    Obrigado, Mónica, mas agora o pior já passou... não há cá mais nada para extrair. Aliás, era nisso que eu pensava - quando conseguia pensar - na cadeira da senhora: são as últimas três raízes, não há mais nenhuma.

    Bolas! Só passadas três horas de sair de lá é que 'percebi' que já tinha acabado... vai lá vai!

    e bfs

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