Neste momento, na minha cozinha, está uma adolescente colada ao ecran da televisão, a visionar pela 1005ª vez (contabilização assegurada pelo pai), o mesmo videoclip. A mesma adolescente que há precisamente uma semana atrás me ia deixando assim um bocadinho para o louco, quando arremessou na minha direcção, aquela fantástica noticia que deixa qualquer um apardalado, sem saber o que pensar, só lhe ocorrendo dizer “já sabes que podes contar com o meu apoio”, mesmo quando sentimos a estrutura que construímos cá dentro, e na qual nos apoiamos, a desmoronar tijolo a tijolo, e às tantas já não há nada que não seja posto em causa…
Mas isto está uma grande confusão, por isso vamos começar do começo…
A Inês andava esquisita há uns tempos.
Avoada como é, com um parco sentido de responsabilidade, tinha sido posta no torno e um nadinha apertada por causa das notas do 1º período, que estiveram tão aquém do que ela consegue se se esforçar só mais um bocadinho, que até deu dó. Chegámos à conclusão de que o facto se devia a ser uma área nova, e como ela tinha ficado um bocadinho chocada por não ser bem o que esperava de um curso de Línguas e Literatura, com certeza que no 2º período a coisa melhorava. E na sexta feira passada, quando a acordei às 07:15 para ir para a escola “mãe, preciso de falar contigo, ou agora ou logo à noite, preciso mesmo de falar contigo”… pois que sim, claro, mas só à noite, senão era mais um atraso e uma aula de primeiro tempo que ela perdia, (o que ultimamente se vinha a tornar pouco raro… coisa que não disse mas pensei). E no final da tarde, logo a seguir a jantar na casa da avó, fomos as duas para a sala, e ‘vá lá, conta-me, então…’ Entre lágrimas e soluços, pois que sim, tinha entregado um teste de Filosofia em branco nessa mesma manhã, e desatado a chorar na aula, e que queria deixar o curso, a escola, fazer um curso profissional, sei lá, só de pensar em ir para a faculdade ficava com vómitos, mais 7 anos, arrghh, sentia-se perdida, e não sabia o que queria, só sabia que não aguentava mais. Responde a ‘Mãe tranquila e zen‘, pois que sim, que íamos pensar nisso tudo, que podia contar com o meu apoio, qualquer que fosse a decisão que tomasse, mas que teria que decidir o que de facto queria (sendo que nesta altura a ‘mãe tranquila e zen’ já só queria voar pela janela, atirar-se da ponte, enfiar a cabeça num buraco e só tirar no dia da queima de fitas da menina, se a houvesse, ou quejandas, socorro, quero respirar e não consigo, ela atira-me assim com a criança para os braços e depois, o que é que eu faço, como é que explico isto ao pai, enfim, respira lá para dentro de um saco, que não há nada que não tenha solução, e com calma a coisa vai). Mocinha já calma, pai e mãe dirigem-se de volta ao lar, onde planearam passar um serão sossegado, ver um filme e namorar um bocadito, aproveitar uma noite sem adolescente e pré-adolescente, um enfim sós, e mesmo antes de entrar na auto-estrada, “olha…” e atirei-lhe a criança para os braços, incertezas e inseguranças aplacadas, vamos lá vender ‘o produto’ aqui à ametade, que não havia problema, se calhar até era melhor assim, num daqueles arroubos em que nem sei onde vou buscar a força, e reúno as ideias como se estivesse de fora e crio uma nesga de clareza no meio das sombras. Quando estávamos a sair da auto-estrada, já um bocadinho roucos, decidimos que era esperar para ver, e esquecer o assunto, ‘pelo menos por hoje’.
Isto há precisamente uma semana.
Entretanto, a Inês decidiu ir fazer os testes de orientação vocacional outra vez - mas já sei qual vai ser o resultado… o ano passado também me deu o máximo em tudo, e depois dizem que tenho jeito para o que quiser, e eu fico na mesma… - e à psicóloga da escola (onde ainda não foi porque não descobriu o horário da dita). Eu também não me fiz de rogada, e falei cm um amigo que é médico e se prontificou a falar com ela para:
M Despistar uma hipotética depressão;
M Ajudar a pôr ordem naquela cabeça.
Entretanto, sete dias passados, a mocinha chegou à conclusão que vai continuar naquele curso, apesar de, provavelmente, a saída ser o Ensino e só se ver a dar aulas de latim, mas que, pronto, ela até gosta do curso, e AIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!! que eu ia ficando maluca e afinal não era nada… ou se calhar até era, e eu é que até agi bem (esta 2ª hipótese é só para me sentir um bocadinho melhor…)
No entanto, quer aproveitar para ir falar com o médico sobre como travar o aumento de peso, e que a põe a chorar só de falar nisso (se ela lê isto, é inundação certa).
E, pronto, aqui temos assim um happy end, e a confirmação que esta mãe pouco tranquila e nada zen é uma grande parva e idiota, pois que cada vez que a infanta grita “lobo!”, põe a guarda toda de atalaia (e será que não é esse mesmo o meu papel, pergunto eu em grego)…
- alguém explica à senhora que os adolescentes são mesmo assim?
Francamente!
Enfim…
Fátima