Há assuntos que mexem muito comigo, porque os conheço bem. Bem até demais. No entanto, e para que não restem dúvidas, começo por apresentar provas de que o que vou dizer a seguir não é fruto de uma imaginação fértil, nem uma mera invenção.
Mundialmente, psiquiatras, psicólogos, e outros tecnicos de saúde, usam o DSM-IV como glossário e auxiliar de diagnóstico para todas as doenças mentais aceites assim como tal pela comunidade médica.
"O DSM IV (ou DSM-IV), abreviatura de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth Edition (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais - Quarta Edição), publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA) em Washington em (1994), corresponde à quarta versão do DSM e é a principal referência de diagnóstico para os profissionais de saúde mental dos Estados Unidos da América e de Portugal, na prática clínica."
Origem: wikipedia, a enciclopédia livre.
Nesse mesmo manual existem duas entradas que quem quiser tirar dúvidas pode consultar, para Episódio Depressivo e para Episódio de transtorno Depressivo.
É que já é altura de quem ainda não percebeu, perceber: quando falamos de depressão, estamos a fala de uma doença. Que pode matar.
Ainda há pouco tempo, tendo uma pessoa da minha familia próxima, jovem, sido diagnosticada com doença bipolar (ou síndroma maniaco-depressivo), eu comentava que era horrivel, já que é uma cabra de uma doença "sonsa", que não se mostra, mas de um sofrimento atroz, como, aliás, qualquer doença mental - ou, se preferirem o eufemismo, de foro neuro-psicológico.
Já que disso percebo eu. Não dou novidades a ninguém que acompanhe este blogue há algum tempo, quando digo que o meu primeiro episódio depressivo major registado, teve lugar aos 12 anos. E que daí aos 41 que tenho, tem sido uma longa viagem, com episódios que duram longos meses, sendo já considerada uma depressão crónica por quem me acompanha clinicamente, eufemísticamente, claro, já que uma vez que não é mencionado no DSM, não existe - mas manifesta-se inexorávelmente em muitos aspectos da minha vida.
Aprendi a viver com ela, claro, a conhecer-lhe as manhas a que nem sempre escapo, mas é extraordináriamente difícil.
Por isso, acho irresponsável, irrefletida, e imprudente a afirmação atribuída a Anne Hathway de que, a respeito de ter lutado contra a depressão na adolescência: "É tão negativamente narcisista consumirmo-nos em nós próprios!" (in Activa, Outubro de 2008, pag 41) - leia o post aqui
E igualmente absurdo, irresponsável e desinformado o comentário que a Bárbara me deixou nesse post, hoje, e que passo a mencionar:
"De Barbara a 7 de Maio de 2009 às 21:25
Em vez de criticarem e inventarem sem factos nem argumentos, tentem melhorar os vossos defeitos. Não conhecem a actriz pessoalmente, para quê especular tanto?"
Não vou dizer, outra vez, que gosto da actriz, que se revelou fantástica no papel que lhe valeu a nomeação para o Óscar este ano, "O casamento de Rachel", tendo também gostado da sua prestação no último filme que vi com ela, "Passengers", de 2007.
Mas não vou reafirmar nada do que já disse e de que não tiro uma virgula. Porque está dito e escrito, e podia ter ido hoje.
No que diz respeito à Barbara, deixo-lhe os hiperlinks acima, para se informar um bocadinho sobre aquilo a que ela se refere como "melhorar os vossos defeitos" (o Prozac, agora já ultrapassado por medicamentos mais eficazes, era, nessa ordem de ideias, um melhorador de caracter e tanto!) e que, honestamente, me remexe as entranhas, quando me lembro do tanto que sofri ao longo destes longos 29 anos a ser comparado a uma qualquer falha de caracter...
Mas se calhar ela tem razão... e a homosexualidade é uma doença com cura, e a Sida é uma doença que surgiu para castigar os pecadores...
Por amor de Deus!
Não quero honestamente, ofender ninguém. Daí, apresento as ferramentas para mudar um pouco a forma Paleolítica como a Barbara (e tantos como ela ainda) pensa(m).
Quanto ao "ataque" que fiz à actriz, explico-o numa palavra: responsabilidade. Quem escolhe uma profissão com tamanha projecção mediática, não pode dizer o primeiro disparate que lhe passa na cabeça! Há milhões de pessoas ávidas de copiarem os gestos, as opiniões, os actos dos seus ídolos - daí a importancia das actividades humanitárias em que se deixam fotografar (mesmo que seja só para "o boneco"), pois servem de inspiração para algumas centenas, quiça milhares agirem de igual forma.
Ora, eu amanhã saio à rua e enquanto tomo a bica, com o café apinhado, ergo a voz e digo: "as pessoas com sida deviam todas ser mortas, que assim acabava-se com a peste!" (a esta hora, lamento, mas é o disparate que me ocorre...). Alguns não exitariam em concordar comigo, outros tomavam a bica em silêncio e ia embora a pensar(e muito bem) "ele há cada maluco!...", eventualmente uma ou duas vozes tentaria impôr a sua opinião. Mas ao fim do dia, na manhã seguinte, ninguém se lembraria de nada.
Agora ponha lá essas palavras na boca da Meryl Streep, por exemplo! Lá teria eu de escrever um post a desancar a falta de bom-senso e notória burrice da minha actriz favorita, e estaria uma horde de gentes a balançar a cabeça em concordancia com o despropósito proferido pela diva!
Por isso, Bárbara, se não consegue imaginar a dor, sentir a angústia, dê o benifício da dúvida. Estou fartinha de usar esta frase: entre o preto e o branco há uma míriade de cinzentos - mas, neste caso em particular, não vejo nenhum.
E ressalvo uma verdade óbvia nem este nem o post mencionado acima visavam a actriz, senão pela irresponsabilidade das suas afirmações, e pela não veracidade das mesmas.
A todos os que tiveram paciencia para ler isto até ao fim, um grande bem-haja!
Agora vou dormir que amanhã espera-me uma tarefa bem dolorosa... e não, não tem a ver com depressão... há mais doenças no mundo...