Ontem comecei a ler um livro novo (tenho de dar pelo menos 24 horas entre livros) que se chama "Uma Mente Inquieta" de Kay Redfield Jamison. Trata-se de um relato na primeira pessoa de uma reputada psiquiatra americana que desde os 17 anos sofre de doença bipolar, ou síndroma maníaco-depressivo, como lhe quiserem chamar.
Ainda li pouco, só a primeira parte, umas 46 páginas, e até aqui ela teve uma manifestação - a primeira - grave. Angústia-me. Aliás, quando comprei o livro já sabia que me ia ressentir com a sua leitura. Só que perciso de o ler, e mais tudo o que puder sobre o assunto.
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É assim um bocadinho como pegar o touro pelos cornos, não estando estes serrados. Se a maior parte das pessoas imaginasse sequer o apavorante que é entrar naquele vórtice depressivo, que nos faz acreditar, sentir mesmo, que todos os que connosco lidam todos os dias viveriam tão melhor se cá não estivessemos... e aí seguramo-nos com toda a força para não dar um passo em falso, e não fazer nada de que nos arrependamos... se ao menos imaginassem...
E no caso da bipolaridade significa ainda mais sofrimento, porque a pessoa não cai daqui de onde me encontro, no buraco... a pessoa trepa, trepa, trepa até às estrelas e de repente... BUM, lá em baixo no fundo. E o descontrolo torna-se de tal ordem que provoca crises psicóticas, que, tirando o risco de suícidio inerente à depressão "comum", faz com que o doente seja um perigo para si e para os outros. Portanto, pode suicidar-se durante uma crise depressiva, pode muito bem acabar morto durante uma crise psicótica, por desespero, assim como numa crise de mania, porque se sente imune, imortal.
Lidar com esta doença, é andar permanentemente a pisar ovos, pé ante pé, tentando desesperadamente não fazer estragos, aceitando situações insustentáveis, só para evitar o desiquilíbrio do outro.
Sou intrasigente com duas ou três coisas. Mesmo, mesmo, mesmo intransigente. Se acaso fosse capaz de odiar - o que até agora não me parece ter acontecido - então, odiaria as pessoas que acham que as doenças psiquiátricas são só para quem pode (bom, não deixam de ter alguma razão, porque quem não pod€ não dura muito...)
Com que direito as pessoas apontam o dedo e dizem disparates do tipo - isso é mas é falta de trabalho! Com que direito é que se sobrecarrega ainda mais quem já vive com o estigma de lutar diáriamente com a dença.
Não sou bipolar. Tenho depressão crónica, controlada com medicação. Lembro-me perfeitamente na minha adolescência de pensar por que raio é que a vida me tinha dado aquele doença, e não uma doença que se visse, que me provocasse por cada dor interior uma ferida aberta. Eu andava na rua, perfeitamente normal por fora (mas não falava com as pessoas, sentia-me incapaz), e em papas por dentro. Não consegui estudar durante 4 anos - a partir do 8º ano.
Mas alguém sabe o que é isto, para se pôr a cagar postas de pescada sobre o que não conhece?
Estou, e fico sempre furibunda com esta gaita, porque as pessoas deviam limitar-se a falar daquilo que conhecem. E da depressão, nem com pesquisa se lá vai, tem de se sentir na pele...
Só desejo mesmo, que essas pessoas que se mostram tão superiores aos doentes psiquiátricos nunca tenham de passar por isso nem ninguém da sua família .
Sim, quanto a este assunto sou intransigente. Só existe esta verdade.
(logo eu que não acredito em verdades absolutas)...
Podem comentar à vontade que eu hoje até vou tirar a moderação dos comentários
Convençam-me do contrário.
Desafio-vos.
Fátima