Augusto Cury
De Cury, até à data, tinha lido apenas o excelente "Pais brilhantes, professores fascinantes". Pondo de parte o seu invejável currículo, sempre o coloquei na mesma prateleira de Mitch Albom (As terças com Morrie, e Por um dia mais) e de Richard Carlson (Não faça uma tempestade num copo de água, Mais rápido de que terapia), nem sei muito bem porquê. Verdade seja dita que na realidade, o primeiro até está na prateleira de pedagogia, e os dois segundos na de auto-ajuda - sendo que Mitch Albm também "cabe" na de ficção.
Ou seja, autores que convencem pelo conteúdo, independentemente da forma - sendo "As terças com Morrie", que descobri à pouco tempo ser o mais vendido livro de auto-ajuda de sempre nos EUA, um livro particularmente bem conseguido (a par com "A última aula", de Randy Paush), e que vale a pena ler.
Ora, um "escritor-de-livros-de-auto-ajuda" vale o que vale, ainda para mais quando Augusto Cury já escreveu alguns livros que só de olhar para a capa fico de pé atrás. Surpreendi-me pois quando a Angela me disse andar a ler "A saga de um pensador", que achava eu ir gostar. Vai daí, encomendei-o na Fnac online, e li-o - em 48 horas. Sim, foram duas belas "semi-directas"... e valeu a pena. O livro encerra uma mensagem muito positiva - volto a establecer o paralelismo entre este livro e As Terças com Morrie - que não sendo de todo original, presta um magnífico serviço à psicologia, não tirando mérito à psiquiatria, uma vez que uma não vive sem a outra, ou melhor não deveria viver. Aponta o dedo, sim, aos profissionais que formatam os doentes com base nos sintomas e ao invés de tentar ver a pessoa por trás da sintomatologia, a classificam segundo a patologia correspondente e a deixam assim "arrumadinha".
Do ponto de vista literário, Cury tem arroubos de poeta, que não cumpre, de todo, na sequência. Existe uma tentativa de parafraseamento das máximas de um personagem que resultam na repetição exaustiva das mesmas expressões, não direi ad nauseum, mas desinspiradamente, ao longo do livro.
No entanto a nota é muitíssimo positiva: se mais não fosse, porque despe as doenças psiquiatricas dos clichés que lhes são inerentes, e segue até aos bastidores do ser humano, sendo aqui a doença o excesso de tecido que forra a ossada, que Cury deixa despudoradamente exposta. E evidencía que, na sua essência, o ser humano é sumamente igual e valioso e vale sempre a pena um olhar mais atento, para lá das aparências e do óbvio. E isso é apresentado de forma que todos o podem entender, independentemente da sua educação e bagagem cultual. E é esse o valor deste livro: levantar tabus eirgidos por uma sociedade assente em preconceitos e pressupostos.
E essa, se outra não existisse, é a grande mais-valia deste livro.
A ler.
(em edição de bolso, abaixo dos €10)
Fátima