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Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Qua | 07.04.10

Eu, a Alice e o Tim Burton

Fátima Bento

Penso que nunca falei aqui da minha relação com o livro "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carrol. Digo já que não é, de todo, das melhores.

 

Li pela primeira vez a Alice quando era novinha; vá-se lá saber porquê, foi difundido que era um livro infantil... o próprio autor criou-o como uma estória para crianças, o que me pareceu sempre absurdo, dado todo o simbolismo que envolve o livro, numa primeira abordagem, no seu todo, e depois, dissecando cada personagem. Nem Bruno Bettelheim se referiu a ele no seu  The Uses of Enchantment: The Meaning and Importance of Fairy Tales [1976,Knopf, New York (trad. portuguesa: Psicanálise dos contos de fadas)] - aposto por considerar que este daria um livro per se.

 

Atentemos no contexto em que foi criado... estando o autor a fazer um pequeno cruzeiro com Alice, de 10 anos, e estando esta imensamente aborrecida, começou a contar-lhe uma estória, que acabou por ser mais tarde publicada. Alice foi, um dos pequenos grandes amores na vida de Charles Lutwidge Dodgson, A.K.A Lewis Carroll, que, segundo o próprio, gostava " de crianças (excepto meninos)"...

 

 

Dito isto, de uma mente decididamente retorcida e inflamada pelos seus ímpetos mais ou menos reprimidos, saíu Alice no País das Maravilhas. Quando o li pela primeira vez, num volume de capa preta e arabescos prateados, com as ilustrações originais, achei-o confuso e "pesado", tendo-o remitido para o fundo da prateleira. Meia dúzia de anos mais tarde voltei a pegar-lhe, mas larguei-o ao fim de poucas páginas, e decidi: Alice é uma obra de que não gosto. Penso que a dimensão da demência retratada no livro terá sido captada no seu melhor por Paula Rego, artista plástica que igualmente abomino (mas sobre esse ódio de estimação falarei noutro post).

 

 

E em meio a este disgust que sinto, surge o filme, por um dos meus realizadores-fétiche, com actores de que gosto à partida. Ambivalência será dizer pouco...

 

Talvez por isso não o terei ido ver mais cedo. Acabei por aceder, "a pedido de diversas famílias", a ir vê-lo e a pronúnciar-me sobre o mesmo. Sendo um Tim Burton, e estando a minha pikena encantada com o mesmo (o que de resto não era um bom augúrio, já que ela adora a Alice pelas mesmas razões que eu detesto), tendo-me no entanto advertido que não era Lewis Carroll mas sim Tim Burton que eu ia ver (o que, sim, foi música para os meus ouvidos), na segunda feira dei por mim com dois pares de óculos. Interiormente desconfortável.

 

Logo aos primeiros segundos, mal o símbolo dos estúdios Disney começa a desaparecer, comecei a sentir Tim Burton. E, concordando com a semi-obscuridade dos primeiros momentos, imagem e música (já que é precisamente essa a sensação que "Alice segundo Lewis Carroll" me provoca), deixei-me levar, com confiança no director.

 

 

 

E Tim Burton não me decepcionou. A estória, sequência do Alice no País das Maravilhas original, apresenta-nos uma Alice pós-adolescente, casadoira, que opta por refugiar-se no seu jardim secreto para fugir à responsabilidade de anunciar uma decisão que se afigura magoar os que a rodeiam. Vê-se então rodeado pelos personagens que conheceu antes, e que povoam as sus fantasias num misto de amor-ódio, atracção-repulsa, já que este é o mundo com que sonha quando tem pesadelos, mas no qual  se encerra quando a realidade se torna difícil. E é precisamente neste mundo de fantasias recambolescas que vai perder-se a pequena Alice, e do qual vai emergir a mulher em que se tornou, assertiva e confiante.

 

A Alice do Tim Burton, e a única que me é possível envisajar sem querer bater em retirada.

 

 

 

Quem não o viu ainda em cinema não deve desesperar, já que este Alice não necessita de 3D, surgindo esta opção apenas como resposta à moda vigente (e sou só eu que nos intervalos dos 3D sinto vertigens?). Portanto, será sem sombra de dúvida um filme que virá fazer companhia aos Sweenie Todd, Nightmare Before Christmas, A Noiva Cadáver, Charlie e a Fábrica de Chocolate, Big Fish...

 

Notas de interesse ou nem por isso:

 

Tim Burton é, mais uma vez, igual a si próprio. Isto fará os seus admiradores deleitarem-se nas sequências rápidas e nos pormenores desconcertantes, e os não admiradores terem uma leve sensação de déja vu...

 

Johnny Depp está à altura do seu Mad Hatter, mas não deixa de ser "mais do mesmo"... uns pózinhos de Jack Sparrow aqui, muito Willie Woncka por todo o lado, e uns laivos de Sweenie Todd... bom, mas a correr sérios riscos de perder a sua capacidade de interpretação diversa. Não que ele esteja muito preocupado com isso...

 

Mia Wasikowska apresenta-nos uma Alice segura.

 

Anne Hattaway muito contida, numa interpretação geométrica, cadenciada por diretrizes do director, segundo me pareceu. A actriz está muito bem, o papel parecerá numa primeira abordagem, estranho.

 

Helena Boham Carter é... Helena Boham Carter. Irrepreesível.

 

A minha voz favorita, Alan Rickman, também marca presença...

 

Com este elenco, não há como não esperar maravilhas desta Alice (trocadilho sequinho, hum?)

 

Fátima

 

Seg | 05.04.10

E já fui ver a Alice no País das Maravilhas!

Fátima Bento

... e já não era sem tempo!

 

Volto mais logo, agora que o raio da migalha que andava debaixo do teclado já foi removida, à partida sem "comer letras", LOL. A ver se ponho por aqui um espantalho para espantar as gralhas... e já agora, alguns visitantes... =o))))))))

 

Não é que eu me possa dar ao luxo de "espantar clientes", que o meu estaminé anda às moscas... bem feito, quem mandou fazer três quintas no Farmville??? Giro, giro é que ontem comecei mais uma... já tinha saudades de começar uma...

 

Agora vou apanhar uvas, e daqui a bocado já escrevo as minhas impressões. Por via das dúvidas, passem aqui amanhã de manhã, que não faço ideia a que horas é que publico o post.

 

Inté

Qui | 01.04.10

Vamos à bolina...

Fátima Bento

 ...e continuamos a falar de livros.

 

Descobri à pouco tempo um escritor francês, de seu nome Guillaume Musso. Muitos de vocês, provávelmente já terão lido o E depois, que me lembrei ter visto à venda há dois ou três anos, mas só me lembrei depois de o ter lido no formato pocket e na língua original.

 

   

 

Et aprés é um livro interessante e agradável, bom para quando estamos a precisar de dar descanso aos miolos, e ler qualquer coisa que não seja mais de que a estória que conta. Parce que je t'aime (desconheço o nome em português) é um livro muito bem construído, e desliza de forma deliciosa, levando-nos a lê-lo de uma assentada.

 

Agora, estou a meio de Je reviens te chercher, que mantém a fluídez e o interessse do leitor. Já cá em casa, "em pousio", na mesa da sala está Sauve-moi, que se seguirá.

 

 

 

Sobre o autor, de 36 anos, há a dizer que é um cometa, no panorama literário francês. Lienciado emestudos económicos, optou por leccionar. A sua estreia deu-se com o título Et aprés, em 2004, que vendeu mais de um milhão de exemplares, e se encontra traduzido em vinte línguas. Seguiram-se Sauve-moi, Seras-tu là ?, Parce que je t’aime, Je reviens te chercher e Que serais-je sans toi ?

 

De referir que o seu primeiro livro foi adaptado ao cinema, tendo estreado em 2009, realizado por Gilles Bourdos, com Romain Duris, John Malkovich et Evangeline Lilly - não o vi, mas gostava de ver. Seras-tu là ? e Parce que je t’aime têm também os direitos comprados para adaptação ao grande ecran.  E foi hoje para os escaparates, em França, La fille de papier, que estava a ser aguardado com grande expectativa pelos muitos fãs da autor (informações retiradas do site oficial de Guillaume Musso).

 

Diz António Lobo Antunes que um mau romance, é o que conta uma estória. Será, de um ponto de vista erudito, sob o qual este tipo de obra não será classificado como literatura. No entanto, digo eu que não gosto nada de autores ditos "faceis", como Danielle Steele, Jodi Picoult e quejandas, que Musso é muitíssimo agradável. Porque faz bem ler um livro sem atentar nas entrelinhas, e/ou sem viajarmos dentro de nós.

 

Gostei de Musso - tanto mais que estou a ler todos os titulos escritos até agora. Gostei especialmente de Parce que je t'aime, mau grado o título, pelo qual não compraria o livro, se não conhecesse o autor de antemão  .

 

Para quem quer só passar uas boas horas, longe de tudo, qualquer um destes títulos é uma excelente opção.

 

Fátima

 

(edição Pocket, no original, à volta de €7,00. Em português, existem alguns títulos em formato de bolso, entre os €10,00 e os €12,00, e em edição de formato normal, rondando os €16,00. Na Fnac online, e/ou na Wook)

 

 

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