O casamento dos pombinhos, ou Pergunta de algibeira...
Hoje fui acordada pelo telemóvel, a horas indizíveis (ando com dificuldade em adormecer, e acabo por acordar cada vez mais tarde...) Nem me mexi - ou melhor, mexi, virei-me na cama e disse, pois que deixem mensagem, não é Mia? e preparei-me para continuar a dormitar. E o telemóvel volta a tocar, eu olho para o relógio e saio da cama a correr e... ó mãe, liga a televisão que falta meia hora para o evento começar. WTF???
Ela estava pertinho, mas não ia para o meio da confusão. Tinha saído de casa mais cedo para conseguir chegar ao trabalho - que fica ao pé de Buckingham e da Abadia - onde ia entrar à uma (!!!) a contar com a confusão gerada pelo casamento real. E lembrou-se de me lembrar.
Como sou uma rapariga bem mandada, lá liguei a tv. Na Sic Notícias, népia. Na RTPN, tradução simultanea (eheheheheheheh, tá-se mêm'a ver, lol*), e o D. Duarte Pio como convidado - porque sim, só porque sim, porque praticamente não falou. O José Rodrigues dos Santos ligado à corrente - aquilo era só adrenalina! - e O VESTIDO e não se consegur ver O VESTIDO, e palavra de honra que poucas vezes vi um gajo tão interessado num vestido! E o correspondente em Londres (eu devia saber o nome dele, mas não me lembro), excitadíssimo a avançar que O VESTIDO seria da casa Alexander McQueen, numa homenagem de Kate ao falecido estilista, mas que aguardavam confirmação. E chegaram o Carlos e a Camila, depois a Raínha e o Duque (é duque, não é?) e a Fátima Cotta no estúdio a comentar nem sei bem o quê, e a rir de uma piada da qual já não me lembro mas que achei ser um comentário do JRS, de gosto para lá de duvidoso... enfim, mudo de canal. Na Sic Notícias, népia. Volto para a RTPN (que remédio), já que num outro canal nacional - não me perguntem qual - papagueava-se por cima dos acontecimentos, o que era bem pior de que a tradução simultanea (eheheheheheh...*) que se anunciava. Chega Kate - e José Rodrigues dos Santos atinge o climax. Os principes saem de onde estavam, e ficam no altar, protocolarmente de costas, enquanto a noiva atravessa a nave da igreja em 4 minutos, nem mais nem menos, pelo braço do pai. O principe Guilherme - sim, já que traduzem os nomes todos, o gajo é Guilherme, e o mano, Henrique - diz à Catarina qu'ela 'tá linda. Confirmada a assinatura do vestido, Mcqueen dá uma volta no tumulo: é que inspiração e água benta... que olha para o vestido da Catarina e para o de Grace Kelly no seu casamento com o falecido Ranier, do Mónaco, sente-se num jogo de 'descubra as diferenças'.
Mas é assim: os noivos estavam nervosos, Guilherme cheio de sono, a Raínha até dormitou durante a homília, que eu vi, e foi úindo, e tutti quanti.
Pois que sejam muito felizes e que tenham muitos meninos - faz parte... - é o que lhes desejo. Saí de casa no momento em que o irmão da noiva ia começar a ler uma carta de S. Paulo a não-sei-quem (presumo que aos coríntios, mas não juro), e fui pregar para outra freguesia. Não sem antes, em zapping ficar a saber que (penso eu que Sic Notícias, mas não garanto - eu hoje estou numa de suponhamos, não sei nada de certeza, vertigem do zapping), estavam a fazer um levantamento da opinião dos portugueses, por telefone e email, sobre o mise-en-scéne da boda real, e o valor gasto com a mesma, que iria ser debatido ao longo da emissão.
Então - e lá vou eu bater outra vez no ceguinho,
estamos num país onde, na presença do FMI, se tem uma tolerância de ponto que prejuíza os cofres do estado. Onde o pessoal se resolveu iludir mais uns diazitos que-isto-não-é-nada, e esgotaram voos, hotéis, numas férias de Páscoa ao estilo de um país na mó de cima. Hoje - e li isto em rodapé, aquando da benção dos noivos, o Ministro da Obras Públicas vem dizer - ó céus!!! - que o TGV não vai sofrer alterações (os gajos estão todos a precisar de acertar as agulhas, não dá a bota com a perdigota, nunca eu tive tanta pena do Teixeirinha...)
... E VÊM PERGUNTAR O QUE NÓS ACHAMOS DA FORMA COMO OS INGLESES ESTÃO A GASTAR O DINHEIRO DELES?????????????
Mas sou só eu que acho que está tudo absolutamente parvo?
Por isso, hoje não tenho certezas de nada de que ouvi ter sido em que canal, nem tenho a certeza se sei ler, e acho que até o FMI dizer: meus senhores, é assim: eu cá não tenho certezas de nada.
Irra!
* a tradução simultanea é assim: a imprensa recebeu a cábula do que se ia passar, com todas as palavras, pontos finais e parágrafos. E o comentador da RTP que fazia a tradução era tão bom, tão bom, que antes do senhor que casou o Guilherme com a Catarina falar, ele traduzia o que o senhor tinha intenção de dizer. E, pasmai ó gentes, acertava sempre! Estáides a ver a quólidade?