E viv'á diferença! (...é qu'ele há gente p'a tudo...)
Há coisas que eu não consigo mesmo entender…
(isto é ainda a propósito do acidente de automóvel que vítimou o artista e o amigo, e mantém a jovem com prognóstico reservado...)
Ontem foi dia de jantar de família. Acabado o jantar, já com quase toda a gente fora da mesa, perguntam-me: então e o que achas do acidente do Angélico? Apetece-me responder nada, mas cito a descrição que li na Sábado, e atenho-me por aí. -Mas o Correio da Manhã disse que... - Esquece o CM. Entre o CM e a Sábado, ou o Expresso, vais dar maior credibilidade a quem? Silêncio. Atiram-se ainda para o ar as teorias do costume, rebentou, não rebentou, foi atropelado, não foi, ía com cinto posto, não ía. Whatever, gente!
Saímos da sala e levamos a restante loiça para a cozinha. Oiço - Vejam lá como as coisas são, morreram dois, a terceira se calhar vai pelo mesmo caminho e só se fala do famoso! "Intreponho recurso": - Não falam nos outros porque as familias pediram privacidade, e parece que de há uns tempos para cá os media até acatam o pedido. E passamos, então ao ponto alto da noite: - Achas? Achas que a familia pediu? Achas mesmo? Não me parece que tenha pedido, eu não acredito...
Olho-a, incrédula, e nem sei bem o que me passa pela cabeça... argumento que se fosse alguém da minha familia, eu não gostaria de todo, de ver qualquer destaque ao seu nome na imprensa. Queria que nos deixassem sofrer em paz. Mas continua, não, eu não acredito. Não acredito que tenham feito esse pedido à imprensa. Como se querer ter direito à privacidade fosse impensável!!!!
Desisto, mas fico a macerar a coisa. Vem-me à lembrança quando andava no CITEM, a tirar o curso de design de moda, a mãe de uma colega de Caras na mão (eu penso que era a Caras, mas não juro, já lá vão 20 anitos e uns trocos miúdos) comentar connosco a foto de alguém que as três conheciamos pessoalmente, e a senhora rematou dizendo: quando é que vos vemos às duas aqui, nas colunas sociais?
Como disse, lembro-me de pouco, falha-me inclusivé a certeza do nome da revista e quem estava na foto, mas lembro-me claramente do que pensei: “porque cargas d’água é que alguma vez hei-de aparecer (ou querer, sequer) numa revista destas?” Concordei, educadinha, com a senhora, mas lembro-me da situação até hoje.
É que já na altura não entendia e continuo a não entender o fascínio de aparecer! Recordo que em pequenina a minha mãe era fascinada pela monarquia europeia – nós tinhamos as fotos do casamento de Grace Quelly com Rainier em View Master*, pasme-se! – e de eu pensar que as coitadinhas das princesas deviam ter uma vida muito triste, eram obrigadas a fazer tantas coisas, mesmo que não gostassem (pois hoje eu diria ‘cumprir o protocolo’), e fossem onde fossem, toda a gente as conhecia, sabiam quem eram, e falavam nisso... e deve ser horrivel, estar num restaurante a jantar, e estar toda-a-gente a olhar para nós!
[*o meu aparelho era igualzinho a este:
e aqui, a edição do casório:
Não me perguntem que idade tinha quando cheguei a esta brilhante conclusão... No entanto, sei que tinha 6 anos quando tomei a primeira decisão em consonância com esse princípio... tinha eu na altura uma paixão assolapada por Fernando Tordo, que tinha acabado de vencer o Festival RTP da Canção com "Tourada", e eu e os meus pais estavamos na Feira Popular de Lisboa quando vimos que jantava no mesmo restaurante que nós. Ó para mim de boca aberta... até que a minha mãe me sugere: vai ter com ele, pede-lhe um autógrafo e dá-lhe um beijinho! Eu???? Virei a cabeça e não voltei a olhar para ele. Ainda balbuciei qualquer coisa como .- ele está a jantar... A minha mãe ficou convencida que tinha sido vergonha, mas garanto que nãofoi.
Por isso, acho mais-que-normal que haja muito boa gente que defenda o direito à privacidade.
Claro que também há os 'aspirantes-a-pato-bravo' que sonham com os flashes...
O que vale é que há lugar para todos... e as revistas cor-de-rosa têm de vender, não?