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Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Qua | 26.10.11

Hoje...

Fátima Bento

Chegou a chuva e o frio. Yessss! Estou que nem uma pinta, mas não me importo nada. O calor já cansava (finais de fevereiro aposto que estarei a escrever o contrário). Hoje já vesti um trench, que pinga agora na casa de banho, e vou de tarde vestir o outro, que aquele fica a secar. Apesar dos pesares, continuo a ver-me obrigada a ligar o ar condicionado da loja - as lâmpadas aquecem muito o ambiente - mas por períodos curtos.

 

O que visto? jeans e t-shirt de mangas 3/4 laranja, o trench da manhã era roxo, o da tarde é cru. Botins com salto de 12 cm (tenho os ossos dos pés a dizer aiaiai, da posição a que os obriga, de modos que de tarde vou calçar as sabrinas dentro da loja).

O que faço? emborco cafeína. A única coisa deste tempo que não gosto, é que me dá sono. Aliás, se estivesse em casa, ia para a minha caminha... como não estou em casa, vou para o quarto café. Raios.

De resto, leio. Hoje saiu a Previnir, que está boa como sempre, e a Happy. Somando à Máxima, que saiu no Sábado, e à Lux Woman, na sexta, tenho companhia. Também levei o livrinho com os contos premiados pela Fnac. Agora, com a soneira que estou, estou a ver que vou passar a tarde é a jogar turbo subs. Tenho de comprar um Mahjong, mas acho que esse não seria indicado para hoje, pelas mesmas razões {#emotions_dlg.snob}...

 

Bom, vou me chegando, que está quase na hora, e ainda tenho de pôr roupa a secar - onde? No aquecedor de toalhas da casa de banho, que é o local mais eficiente e económico para o fazer.

 

Inté

(a ver se desencanto qualquer coisa mais interessante sobre o que escrever.

O meu mal é sono).

 

Seg | 24.10.11

Ainda 'O último Segredo'

Fátima Bento

Se havia coisa certinha era o post anterior provocar alguma celeuma, o que me parece não só saudável como recomendável.

No momento em que escrevo este post, ainda não tive oportunidade de responder a quaisquer comentários, e fá-lo-hei (aliás, há uma mão cheia deles espalhados pelos últimos posts, à espera de feed back...). No entanto, sinto que devo fazer um ou dois esclarecimentos.

  • Não conheço José Rodrigues dos Santos de lado nenhum. A minha reação acalorada prende-se, fundamentalmente com a desilusão que as entrevistas, a contracapa e o prólogo do livro me provocaram. A ideia que tinha do jornalista era, até agora, bastante positiva, e escorreita... simplesmente há uma coisa que não consigo 'perdoar' a ninguém: preguiça, facilitismo. EU penso que, em face à existência de uma obra com o mesmo tema, havia que fazer um esforço para descolar do original. A escolha de figuras centrais tão similares às do 'Código', mostra, NA MINHA OPINIÃO, uma falta de esforço. Não haveria forma de contar a estória noutros moldes? 
  • Não gosto da narrativa de Dan Brown, embora goste particularmente dos dois últimos livros: cheguei, n'O Símbolo Perdido, a saltar páginas de retórica pura, por não gostar mesmo de como o senhor escreve. Mas aprendi com ambos (principalmente com o último) coisas que, provávelmente não saberia de outra forma. As obras de Dan Brown, quanto a mim valem, tão só e apenas, pela pesquisa. E e penso que é leviano (volto usar a mesma expressão que usei atrás) acompanhar a afirmação de que os dados que DB usa são falsos (não faço ideia da veracidade da afirmação), contrapondo que este faz coisas esquisitas. Certo, qual é a relevância?

Costuma dizer-se que quanto maior a altura, maior a queda... eu acredito que o que me provocou tamanha indignação se prenderá também pelo respeito nutrido por JRS como profissional.

 

Agora, se há coisa de que não me importo, é de mudar de opinião. Se alguém me quiser enviar um exemplar do livro de JRS, garanto que o lerei, e se for caso disso, publicarei aqui um pedido de desculpas. Infelizmente, não acredito que a obra não seja uma colagem.

 

De qualquer forma, se estiverem interessados em testar a qualidade da obra, sou toda vossa...

 

Sab | 22.10.11

'O último segredo', é que não há segredo nenhum na escrita de José Rodrigues dos Santos...

Fátima Bento

Que o novo livro de José Rodrigues dos Santos vai vender, disso não tenho dúvidas – não sei é se uma boa parte será pela razão eticamente certa...

Confesso já que uma das minhas paixões é a lingerie das religiões... interessa-me sobretudo o que não se diz, não se escreve e, mais interessante ainda, o que se omite e o que se esconde. Acho fascinante - como quase toda a gente, não resisto a uma boa conspiração, e a religião é um dos meus temas favoritos (aqui, aqui e aqui). Podia facilmente fazer um mestrado em filosofia das religiões, não porque perceba muito sobre o assunto, mas porque adorava perceber mais.

Posto isto, entendo a paixão que move as pessoas a escrever sobre a vida do Cristo, oh se entendo. Entendo todo o processo de pesquisa que envolve a coisa, e o fascínio sobre a mesma. E até compreendo que alguém como (digo eu) um jornalista-na-pele-de-romancista como JRS se aventure nesse campo.

Não, e afirmo-o peremptoriamente, aceito que transforme essa pesquisa que suponho séria, num relato que se afigura como uma clonagem do modelo de Dan Brown. Considero moralmente reprovável, fazê-lo, independentemente do prazer que me desse passar tal ideia para o papel. E acho de um levianiasmo atroz os contornos em que o faz.

Dan Brown apresenta-nos o Código daVinci como uma aventura encabeçado por um simbolista  uma, perita em criptologia... José Rodrigues dos Santos tem duas figuras centrais no livro, uma inspetora e um criptanalista (com o pormenor de ter nacionalidade portuguesa), que vão investigar uma serie de pistas que os vão levar através de documentos e afins a chegar onde... mais ou menos chegaram as personagens de Dan Brown. E de onde partem? Do cadáver de um homem com um código indecifravel e do de uma mulher, com a palavra 'alma' escrita junto deste... quem cometeu o crime e persegue o par? O Priorado de Sião ou os Sicarii, um e outro seitas secretas, que desejam preservar a imagem bíblica do 'Jesus-mito'.

  

À questão de recear ou não, ser comparado a Dan Brown, JRS diz não se incomodar, assumindo que este é um romance 'danbrowniano', mas que “muitas informações que o Dan Brown usa são meias verdades e falsidades. Ao contrário dos livros dele, o meu só se baseia em informação histórica verdadeira1)”. Ao sublinhar as diferenças que os separam refere que “O Dan Brown faz umas coisas esquisitas. Acorda às 4:00h, pratica ginástica, faz o pino durante meia hora e começa a escrever às 5:00h. Eu não1)”.

 

[Se calhar devia, não resisto a dizer...]

 

Portanto, como disse logo no inicio deste post, o novo livro de José Rodrigues dos Santos vai vender, disso não tenho dúvidas. Até eu senti o impulso de o adquirir para comparar com 'O Código daVinci' assim taco-a-taco, do incomodada que esta estória me deixou. Mas se não o farei, mau grado as deliciosas horas que passaria, com os dois livros junto de mim, a tirar apontamentos (ou como diria JRS, a fazer uma pesquisa séria e verdadeira), não vou pactuar com este coup de theatre que vai rechear a conta bancária de JRS, sem que este o mereça. Até porque há uma serie valente de livros que me interessam neste momento, e não tendo nunca lido qualquer obra deste, garanto que, não só não vou ler esta, como descartei a hipótese de ler qualquer outra. Mais: não vou voltar a olhar para o profissional da RTP da mesma forma: alguém que plagia outrem desta forma não me parece poder ter qualquer resquício da ética que se pede a um bom jornalista.

 

Também não me parece que seja particularmente inteligente, que um autor que tem livros traduzidos em 17 línguas, com um contrato milionário com uma editora americana, se digne a, numa entrevista de pré-publicação da nova obre aquela que é considerada a 'Time portuguesa', se refira a Dan Brown de forma menos respeitosa - tendo em conta a situação, mostrar alguma cavalheirismo não lhe ficaria nada mal; bastava omitir determinados comentários...

Eis senão quando muito boa gente vai ficar expectante à reação do escritor americano... este poderá ignorar a situação, ou não - aposto na segunda, tendo em conta o valor do contrato com a HarperCollins...

Aqui estaremos para ver.

De qualquer maneira uma palavrinha só a José Rodrigues dos Santos: mau. Mesmo muito, muito mau.

 

1)in Sábado, edição de papel nº390, de 20 a 26 de Outubro de 2011

 

Qui | 20.10.11

Ciúme e reforma, ou O post mais machista que escrevi na minha vida, e nunca pensei vir a escrever...

Fátima Bento

Há uns dias atrás ouvi uma conversa que me deixou a pensar. Uma senhora dizia a outra que o marido era muito ciumento, e desde que se tinha reformado, era um inferno; quando de manhã ia à praça e demais errands – parece-me bem aqui a palavra recados - ao chegar a casa era sujeita a um interrogatório ao jeito da Gestapo nos seus melhores dias: porque é que demoraste, onde é que foste, com quem é que falaste (esta, eu achei um mimo). E a senhora forçava um ar incomodado, que é um desassossego, num indisfarçável orgulho de quem se sente desejada.

Fiquei, como disse atrás, a pensar no assunto.

Vamos dividi-lo por partes:

  • A reforma – não há (é que não pode mesmo de haver) quem entre na reforma de ânimo leve. E isso é perfeitamente compreensível: é como se a sociedade passasse um papelinho a dizer 'fora de prazo', e nos remetesse para a prateleira da vida. No caso das mulheres, não me parece tão dramático como no dos homens, por vários motivos: a sociedade ainda não enraizou nelas (em nós) a ideia de trabalho como principal finalidade da vida. Estamos afincadamente no mercado de trabalho há perto de cem anos – o boom deu-se aquando das Guerras Mundiais, pelo que é relativamente recente. Mais: temos o poder (sim, sim, o poder) de gerar vida, o que nos atribui, sem mais delongas e por defeito, uma missão; somos mais pró-activas, pelo que descobrimos sempre qualquer coisita para fazer. E, claro, há aquela coisa que a sociedade ainda remete para as mulheres: o trabalho doméstico. Os homens já vão dando o seu contributo, mas só a partir da minha geração. Há coisa mais irritante de que o 'queres ajuda'? Ajuda pressupõe que a tarefa é minha, e que o outro se disponibiliza para ajudar, já que não tem essa obrigação...

Por isso, um homem quando se reforma sente-se assim um bocadinho como uma mulher na menopausa: e agora o que é que eu faço, para que é que sirvo (desculpem, mas não acredito que isso não passe pela cabeça de todas, pelo menos umas vezezitas). É dose. E depois inventam. É o 'o que é que estas a fazer?' repetido à exaustão, o que é que há para eu fazer (os miúdos fazem a mesma pergunta...), o caso da senhora mencionada acima...

  • O interrogatório – o interrogatório a que o esposo da senhora acima sujeita a  mulher diariamente mais não é que o desespero de tentar segurar o que lhe resta. Primeiro é assustador que além do emprego possa perder a mulher (é similar ao que as crianças sentem quando se sentem abandonadas por alguém importante na sua vida, na justa medida), i.e, a família, o lar. Depois, colmata a necessidade de sentir controlo sobre algo, neste caso específico, alguém. E depois pode manifestar uma necessidade de viver a vida por interposta pessoa – onde é que foste e com quem falaste (só falta o de quê, que me 'cheira' que o senhor em causa também perguntará) mais de que ciúme pode demonstrar simplesmente curiosidade.
  • O ciúme – o ciúme é lixado... como já referi atrás, prender-se-há (prende-se sempre) com necessidade de exercer controlo sobre o outro. Porquê? Por medo. Medo de rejeição, receio de perda do que sempre considerou seguro, e do que até ali desconhecia (e para mais, sabia lá o senhor que a mulher saía todos os dias durante aquelas horas!).

Ora nada disto é dramático quando a esposa em questão sente essa 'atenção' como lisonjeira, como era nitidamente o caso da senhora que ouvi. Com a idade em questão – mais de 65 anos, que é a idade da reforma atualmente – provavelmente não estava à espera de ser alvo de desconfiança, o que lhe reforça a autoestima, e lhe diz a) que é desejável e b) que é desejada.

Mau, mau, é quando a senhora é ciosa da sua independência e liberdade e sente que o outro está a invadir o seu espaço - eu sentir-me-ia assim. Temos, nesse caso o caldo entornado, e muita discussão.

Este post acaba por ser uma análise semi-sociológica do fenómeno, não quer nem pode dar dicas do que quer que seja. Só me parece que, neste caso, a única solução será a assertividade no discurso, senão, não há saídas airosas...

E ao fim de uma vida em comum, acho eu que ninguém sai a ganhar...

 

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