... se tivesse conseguido. Hoje de manhã.
- mas nisto ele e a irmã são farinha do mesmo saco, irra, gentinha! A mania é: entrar no meu quarto de manhã, independentemente das horas, e desandar a falar comigo como se eu estivesse acordada. É que nem tem (só) a ver com volume que usam para expôr o que os leva a verbalizar quoi qu'il soit, é mesmo o pressuposto de que eu estarei ready para sair do sono diretamente para dentro da conversa. Ora da maior parte das vezes, e se é assim cedo o suficiente, eu respondo, e passado umas horas, eles vêm argumentar que me disseram, ou que me perguntaram X e que eu respondi, e eu não tenho qualquer memória da coisa.
Nicles.
Só não juro a pés juntos que é mentira porque já aconteceu vezes demais para eu saber que é verdade. Ou então, acontece como hoje... (só que hoje bateu mais forte): estou eu no fundo do poço dos sonhos, ali, a contracenar com as outras personagens, e sou puxada para cima por uma voz que me obriga a vir à superfície depressa demais.
Ui, até dói.
Hoje fiquei a tremer, todinha, até a voz, incapaz de coordenar raciocínio, discurso, e com uma veia infantícida (vá, adolescentícida) a palpitar. Ó pra mim enrolada numa bola debaixo do edredão, a tremer, e o puto a insistir: 'mas mãe eu vou descalço! Pelo menos diz-me onde estão...'
Referia-se a meias. Precisava de meias lavadas. E eu ali a tremer, e ele que nem uma matraca, bla, bla, bla... bom, baixou o santo, e aqui a menina abriu a boquinha, levantou o volume, e
'ouve, EU TOMO COMPRIMIDOS PARA DORMIR, NÃO PODES ENTRAR POR AQUI DENTRO A FALAR COMIGO COMO SE ESTIVESSE ACODADA PORQUE NÃO ESTOU, E QUALQUER DIA ENTRAS POR AQUI A FALAR, E DÁ-ME UM ATAQUE CARDIACO! "
"Mas eu até falei baixinho!..." argumentou, como bom adolescente
"Não tem a ver com volume, tem a ver com puxares-me para dentro da conversa e eu ainda estar a dormir!"
"Porr@, e dá-te logo um ataque cardíaco??"(estas idades são um mimo!)
"EU TOMO COMPRIMIDOS PARA DORMIR, não acordo como as outras pessoas!"
"'Tá bem, pronto." E, dois passos atrás, mete a cabeça dentro do quarto
"vê lá se me arranjas as meias, está bem?" (ai que idade mais por-rei-ra!!!!!!!!!)
"JÁ VAI!!!!!"
Ai.
Quando ele saíu, levantei-me, já com o coração no sítio e a bater normalmente. E vá lá que, à conta de ter refilado a plenos pulmões, nada maldisposta.
Mas tenho de fazer uma correção: não acredito que a coisa me provoque um ataque cardíaco. Mas que um dia destes me dá um treco, ai dá.
Porque ele não vai deixar de fazer o mesmo (perdi conta às vezes que disse à Inês para não ir falar comigo antes de ir para a escola, e foram todinhas debalde), e enquanto eu estiver a tomar aquela coisa, acordar à bruta vai ser doloroso cum'ó caraças.