Muito tenho lido sobre as teenagers acampadas à porta do Pavilhão Atlântico. Mas só que o que eu acho mais interessante é a reação de tantos pais, que salvo raríssimas exceções, vem de pais/mães com crianças (muito) pequenas que seguem a tabela-tipo de 'eu faço(zia) e eu aconteço(cia)', não faltando a máxima '...ai se fosse minha filha...'
Ah!
{Em primeiro lugar, abro uma exceção àquela criança de 16 anos que tinha 5 tatuagens do Justin Bieber. É. sem dúvida, um caso patológico. Mas parece-me bem que a patologia vem mais dos ascendentes que da descendente.
MAS QUEM, EM SEU SÃO JUÍZO, DÁ AUTORIZAÇÃO
- CINCO AUTORIZAÇÕES! -
PARA MARCAR INDELÉVELMENTE O CORPO COM O NOME DE ALGUÉM
QUE, NÃO TARDA, NÃO É NINGUÉM??
Há duas hipóteses: segundo a lei, os pais têm de dar autorização, mas há formas de de dar a volta à coisa.
{Isto é um suponhamos}
Então, estou sentada na sala e a minha filha entra e: olha, fiz isto, diz estendendo o braço gravado pela primeira vez.
Primeira reação:
1. Cai-me o queixo;
2. Entro em choque;
3. Não consigo pensar;
Mas acho que a seguir a conseguir apanhar os meus berlindes todos do chão, agrrava na pequena e marcava uma consulta num dermatologista. E forçava, tanto quanto possível, uma amostra da remoção da mesma por laser. Só um saborzinho. Até lhe pagava o retoque 'daquela merd@', se ficasse estragada. Mas havia de fica a ruminar no que havia de passar. Provávelmente não teria chegado às cinco tatuagens...}
Agora quanto ao acampamento junto ao Pavilhão Atlântico:
NADA contra;
TUDO a favor.
Há coisas que têm de ser vividas com toda a intensidade. Toda e mais alguma, são memórias para o resto da vida.
Domingos Amaral no seu post sobre o tema acerta na cabeça do prego. Só há uma coisa que me deixa admirada: eu e o D.A. temos a mesma idade.
Por isso, confunde-me quando diz
"Quando eu era mais novo e adolescente, é evidente que gostava muito de ir a concertos e fui a imensos. Mas, nunca fui um fã incondicional de nenhum grupo ou cantor. Nunca fui daqueles que ia na véspera para a porta dos concertos, nem que ia para a fila para comprar bilhetes logo às primeiras horas, essas coisas que os fãs fazem. Muito menos ir esperar os cantores ao aeroporto!"
Presumo que os concertos a que D.A. se refere sejam ou fora-de-portas, ou de grupos portugueses (e eu bem sei que nenhum dos grupos nacionais da altura tendia a levar ninguém à histeria, ou a uma fanzisse obcecada). PORQUE, se bem me lembro, para cá vir ALGUÉM de renome, era um castigo! Nem esta geração faz a mínima ideia do que era difícil conseguir ver os grupos de que gostávamos.
Tive o imenso privilégio de ir ver o meu grupo favorito do qual era-o-equivalente-ao-que-as-bieberettes-são-hoje, sem lata para tanto, mas num frenesi danado. Eram os Duran-Duran - o Simon LeBon (que ainda hoje canta mal) e o John Taylor, mais os outros três. O meu paizinho levou-nos (a mim e a quem mais coube na carroça) até ao Dramático de Cascais e aguardou no carro o final do concerto. Idem para os Spandau Ballet (e mais tarde para as exibições de Ivan Lendl e de John MacEnroe, mas nesse caso, assisti sozinha). Sei que cá vieram mais dois ou três nomes maiores, ao estádio de Alvalade, e acabei por ver o Roberto Carlos aí, da primeira vez que o vi ao vivo (penso que foi o meu primeiro concerto à seria). De resto, Portugal era O deserto. Ninguém sequer sabia onde isto era, quanto mais cá queria vir!
Por isso, é impensável fazer comparações.
Também não imagino, na minha adolescência, o mise-en-scéne do lançamento das obras Potter da Rowling, e de jogos para PC ou consolas, que
EU ACHO QUE SIM
que é de estar presente. Fica no álbum das recordações, sem sequer ser preciso sacar da maquina fotográfica ou do telemóvel.
Por isso aos velhos e velhas do Restelo que "nunca jamais em tempo algum" deixariam as descendentes acampar à porta do Atlantico, um conselho: uma redoma de vidro. Ou uma bolha.
É mais facil e dá menos trabalho aos pais, que assim não têm que de quando em vez levar comida, roupa, e verificar se está tudo 'nos conformes'.
Sim, que isto de à vontade não foi, nem é, à vontadinha...