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Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Diário de uma "dona de casa" 2.0

... à beira de um colapso

Ter | 31.12.13

Feliz 2014 - OU - afinal sempre tomo (eargh) decisões de ano novo (eargh)

Fátima Bento

Eu ontem prometi um post (o mais) fofinho (possível) e coiso, a desejar feliz ano novo a toda a gente, certo?

Pois prometi.

Fofísses à parte, desejo mesmo, mesmo que tenham um ano assim como não há muitos,

mas em bom, ok?

E depois posso dizer que esta noite dormi menos umas horas, isto e, que a interrupção habitual do meu sono se prolongou um pouco mais de que o costume. E como tal, ou por isso mesmo, consegui pôr a minha cabeça em ordem - e por ordem entenda-se o 2 antes do 3 e depois do 1, estão a ver? - pelo que, ainda tive tempo de tomar uma decisão, que POR ACASO até é um resolução de ano novo, coisa que há dois anos ando a evitar tomar [já que só o nome 'decisão de ano novo', me tresanda a falhanço], mas pronto.

Decido que hoje, mesmo, mesmo antes do soar da primeira badalada, me dispo. Me dispo dos restos de armadura atrás da qual me tentei de proteger e que ainda restam agarrados à minha pele - tenho para mim que alguns a vão deixar em ferida quando arrancar, mas dê lá por onde der, hão-de sair.

E depois, quando der a última badalada, nem armadura, nem casulo, nem nada que se pareça, vou estar emocionalmente nuínha e prontinha para renascer com 2014. E venha de lá bordoada, coice e cacetada, que eu aceito. E devolvo. Porque isto de levar, engolir, calar e encher fica, tal como a armadura que me protegeu (de muita coisa mas falhou noutras tantas), em 2013.

A partir daqui é a doer - em mim e nos outros.

Vou trocar as reticências por pontos finais. E vou andar de volta dos pontos de interrogação até  eles mudarem - para OUTROS pontos de interrogação, que no dia em que as respostas acabarem em parágrafos, podemos pendurar as botas e dedicar-nos à pesca.

Por isso, em 2014 vou andar às apalpadelas à procura de mim, e vou guardar cada bocadinho de mim que descobrir. 

{Dois anos se passaram desde que o meu pai foi operado pela primeira vez ao tumor na próstata; depois uma segunda vez, depois o meu sogro lutou com o cancro, depois faleceu, depois o meu pai lutou com a diabetes, e o resto da história que já conhecem, e depois faleceu há menos de quatro meses, e eu acompanhei cada virgula de ambos os casos e passaram 24 meses sem eu saber muito bem como, e dei por mim mudada, mas parecia que ontem tinha sido mesmo ontem e já tinham passado 730 dias, e eu tinha mudado como qualquer pessoa muda em 104 semanas, ainda para mais a suster a respiração e a endurecer os abdominais para aguentar os murros desferidos, e a formatar a cabeça para aguentar tantas mudanças, e suportar tantas dores.

O que restou? Uma pessoa que não conheço.

E que, garanto, começo hoje a conhecer.}

Por isso, a todos os que, há quase nove anos me seguem por estas paragens, aos outros que me descobriram há menos tempo e vão seguindo, aos que se lembram de mim às vezes, e aos que calha cá virem parar, A TODOS, sem exceçãodesejo o melhor ano das vossas vidas.

Eu, pela minha parte, vou fazer tudo ao meu alcance para conseguir começar uma nova jornada carregadinha de esperança, e na certeza de conseguir fazer os meus dias, e dos dos que me rodeias, mais felizes.

Assim eu me mantenha eu,

vivinha e de saúde.

Até para o ano!

Seg | 30.12.13

O final do ano, passar 2013 em revista, como é suposto, e coiso.

Fátima Bento

Pois que não me apetece. Não me apetece nada falar de 2013. Se foi um ano mau? Mau não seria o adjetivo que usaria para o classificar, mas foi (profundamente) um ano duríssimo.

Nada a esquecer, nem nada a mudar no que passou: é aprender e seguir em frente. E fazer os possíveis para que vá doendo menos, na justa medida em que eu vá deixando a fragilidade se transfigurar em força, e ser capaz. Há dois anos atrás, escrevia eu aqui os meus desejos para 2012. E vai-se a ver as coisas não mudaram assim tanto...

O meu único desejo expresso era 'ser capaz'

"(...)De acabar aquilo que começo.
De começar aquilo que adio.
De acreditar nos meus sonhos e agir em conformidade.
De dizer não.
De dizer sim.
De tanta coisa..."
Nessa matéria, continuo com o mesmo desejo, mais ou menos no mesmo pé. E pela mesma razão: "é difícil uma pessoa se conseguir organizar de pc ao colo no sofá. Mais difícil ainda é fazê-lo quando o colo é tomado de assalto pelas ladies da casa, que sabem perfeitamente qu'aqui quem manda são elas . Acreditem (...), é extraordinariamente difícil teclar com elas em cima", e por isso, desejava, na altura, muito, muito, muito um escritório.
Essa parte já está.
As Billy estão lá as duas, o auto-retrato da Inês ocupa lindamente a parede do fundo, tenho um cantinho para a leitura, uma cadeira porreira para a secretária, e a dita por montar - a ver se trato da arrumação das prateleiras da Billy 'de lá' antes da montagem da mesma, já que tenho mais espaço agora.
Tudo pronto, portanto, para começar o ano a organizar-me de uma vez.
Quanto ao resto... é pá, nem vou falar nisso. Ando um cocó feito de cristal, estilhaço-me não sei quantas vezes ao dia, e o resultado desse estilhaçar é umas vezes lágrimas, outras vezes uns ataques de mau génio de sair de baixo (o meu psi diria que
a) foram muitos anos a engolir;
b) o luto não se faz em dois ou três meses)
Mas isto de me sentir completamente desestruturada ou a desestruturar-me a cada hora, é uma gaita. E o não dormir, ou dormir e sonhar com 'os meus mortos' (as minhas pessoas queridas que morreram, que já faz um ramalhete jeitoso), acordar e ficar uma ou duas horas a virar na cama até voltar a adormecer é mesmo cansativo, e mais a cada noite que passa...
Está (tudo) a ser muito difícil. 
- também ninguém disse que ia ser fácil...
(nunca foi, porque seria agora depois destes sobressaltos todos?)
Por isso, queridos e queridas, ainda antes das 12 badaladas de amanhã deixo aqui um post fofinho e doce, otimista q.b. [que eu não me estou a candidatar a nenhum cargo politico para me fazer mais (animada) que aquilo que ando], mas prometendo desde já ser sincera, amanhã desejo a todos um ano novo com tudo o que temos direito.
Amanhã.
Por hoje fiquem-se com esta, e não digam que vão daqui sem nada...
Seg | 30.12.13

O-calendário-de-que-se-fala ou a hipocrisia que agora e sempre nos rege e regeu...

Fátima Bento

Ok. 

A Cáritas recusou as receitas que lhes seriam dirigidas por uma parte da receita obtida com a venda dos calendários dos bombeiros de Setúbal.

Está bem.

Porquê, pergunto eu?

Parece que tem a ver com um certo puritanismo, ou assim, o não querer dinheiro ligado à 'exploração' da sexualidade intrínseca nas fotos dos senhores que posaram para o calendério-de-que-se-fala.

Diz que sim, que estas coisas de misturar sexo e religião não é bem vista.

Diz que sim, que na religião, neste caso preciso católica, os fieis só têm relações para procriar, com as luzes apagadas, o mais vestidos possíveis sendo que os homens mantém as calças e respetivos trusses (é assim que se escreve?) a meia aste, e as senhoras se limitam a levantar a camisa de noite por forma a facilitar a entrada da semente que, esperançosamente, dará fruto daí a nove meses para se não terem de submeter à repetição de tal ato ignominioso.

Diz que sim, que não existe qualquer pingo de verdade no envolvimento entre padres e freiras ao longo dos últimos séculos, nem existe pedofilia não ser nas mentes porcas e difamatórias dos iníquos inimigos da Santa Madre Igreja.

Pois que diz que sim.

O que quer dizer que esta noticia é falsa:

ou clique na foto para ler a noticia)
Quanto à Cáritas portuguesa: para o próximo peditório podem contar com a minha moeda... a permanecer dentro do porta-moedas. Hipócritas de merda...
Seg | 23.12.13

E como não podia deixar de ser, os meus desejos, este natal, PARA TODOS

Fátima Bento

Hoje é aquele dia (esqueçam lá amanhã, que eu hoje já estou a bater mal com a listadecoisasafazer, quanto mais amanhã...) em que escrevemos coisas bonitas, e fofinhas e doces, e às vezes até usamos a palavra 'santo' antes de Natal, palavra que só usamos uma vez no ano, e essas tretas todas, não é? Pois que este ano estou pouco dada a corações de algodão doce, a candy canes e filhós.

Porque sim.

Mas como ATÉ É NATAL, e porque no fundo (que este ano está mesmo fundo) eu até gosto muito desta época, vou desencantar uma mensagem com pretensões encantatórias, yá?

Pois que (e isto é sincero), desejo a todos os meus amigos, conhecidos e leitores o melhor dos Natais, com tudo aquilo que desejam, nomeadamente

a família toda pertinho

muitos beijos,

abraços

e coisas boas

Os presentes... é pá, que se lixem os presentes, o importante é termos as pessoas que amamos juntinho de nós. E se cada uma se tiver dado ao trabalho de embrulhar UM bombom que seja, só para mostrar que se importa connosco, melhor. Não é o que está dentro que importa, é mesmo o embrulho com o nosso nome escrito, que mostra que se lembraram e acharam importante partilhar esse carinho.

- não é materialismo da minha parte, é mesmo só a lei da retribuição; se faço pelos outros, ó fáchavor de devolverem o ato. 

Portanto façam lá o favor de ter

uma noite encantada

e um dia

frio por fora

e muito quentinho por dentro.

E, se for muito importante para vós, então desejo a todos, um santo Natal.

 (to be continued, ainda falta os ano novo e reis...)

Dom | 22.12.13

Rodrigo Leão e La Fontaine...

Fátima Bento

Não tenho qualquer tipo de pachorra (reminiscências do meu tempo de cursista de design de moda) para intelectualóides de meia tigela. Ainda para mais para aqueles que se escondem atrás dessa pretensa superioridade neurónico-cognitiva para disfarçar o cagaço que os paralisa...

O último exemplo acabado dá pelo nome de Rodrigo Leão. O que eu gosto de escutar este senhor não é para aqui chamado - e admito já a minha quimbarreirisse de adorar, pode ser com maísculas, ADORAR o Alma Mater mais de que qualquer um dos outros trabalhos que lhe conheço (devo ficar-me por cinco ou seis álbuns, não sou nenhuma especialista); aquela musica faz-me levantar vôo e ficar a pairar. E isso é impagável, venha da musica, da arte [Bachus,Cy Twombly, no Tate, deram-me vontade de sentar no chão da sala e não me mexer até o museu fechar], na escrita [não vou voltar a referir a escrita de A.L.Antunes, pois não?]...

Agora acho imperdoável a sua colagem à raposa de Esopo [mais tarde reescrita por LaFontaine].

Meu querido: se o menino se sente esmagado face à hipotética - e possível, digo eu - nomeação para a estatueta, é mais que compreensível; por mais que todos os mais-ou-menos-indies e pseudo-intelectuaóides ligados à 7ª arte desdenhem aquela feira de vaidades made in LA, a verdade é que um Óscar no curriculum além de enriquecer o mesmo, é o sonho secreto que qualquer ser humano ligado, direta ou indiretamente, ao metier.

E andar nas bocas do mundo e na noite das nomeações o sonho se esbater em fumo, é dose. Mas às vezes é preciso ser homenzinho.

Deixar as peneiras de lado, a arrogância, o feitiozinho de merda da raposa e assumir que gostávamos de ter acesso às uvas, e que cada bago nos saberia pela vida.

E se não o quisermos fazer AO MENOS, AO MENOS, fechar a boca.

Já dizia a minha avozinha: 'o calado vence tudo'.

Ouviu?

(santa paciência, senhores...)

(foto: Visão)

Sab | 21.12.13

Mais uma vez, António

Fátima Bento

"Há alturas em que penso que tivemos a sorte de não termos sido amados...

> Porque é que diz sorte?

Porque, se fosse o contrário, se calhar não escrevia, não é? A gente escreve para gostarem de nós.

António Lobo Antunes, in Visão, Grande Entrevista, 19/12/2013

 

Os olhos transbordaram, e as letras esboroaram-se numa névoa, durante uns bons dez minutos.

Às vezes é isto de simples. Esteve sempre presente, e de tão familiar, nunca demos por isso. 

 

Obrigado (mais uma de tantas vezes...) António.

Ter | 17.12.13

A invasão veste de vermelho e branco

Fátima Bento

Pois que aqui há uns tempos valentes, presumo que deve coincidir mais ou menos com o aparecimento das lojas chinesas nesta quadra, as nossas janelas e varandas começaram a ostentar pai natais pendurados em cordas. E como se não bastasse um, havia-as com dois, três quatro - gente egoísta, que queria o Natal todo para si, só pode...

Meteu-me, logo na altura, um nadinha de aflição, pelo que escrevi, a seu tempo, um post sobre o assunto.

E eis senão quando este ano começo a vê-los no seu apogeu, pendurados nas ditas... ou andei a dormir nos últimos anos, ou estamos a ser re-invadidos...

O post que mencionei tem em comum com o de hoje, o título, e o texto que se segue, decalcado a papel quimico - diga-se em abono da verdade, copiado e colado na íntegra...

Até há bem pouco tempo atrás, era vê-las: verdes e vermelhas, exibiam as quinas em tudo quanto era janela e varanda deste país (pois, não me estou a esquecer dos automóveis, e tal, mas pela sequencia vão perceber porque não entram na equação…). Não havia cão nem gato que não enaltecesse a selecção e empunhasse bravamente o símbolo do orgulho nacional. Devemos tal devoção a um brasileiro que conseguiu mais em meia dúzia de meses de que os políticos nacionais em 32 anos - mas também, vão lá perguntar a uma criancinha o que simboliza a bandeira, que levam com um “é da selecção” que ficam abananados 3 dias. Ah pois é…

Mas isto vem a propósito de, de repente, as bandeiras terem desaparecido das varandas e janelas do nosso país, assim, da noite para o dia. E no seu lugar ainda quente, podem agora ver-se… Pais Natal. Aos magotes, haja pachorra para tanto bonequinho pendurado, de cordas, escadas, o diabo a sete. Eu tenho cá para mim que se olharmos os gajinhos de perto, olho no olho, a maioria tem os ditos em bico, e não pronunciaria os ‘L’ nem que pudesse falar.

Aaaarghhh!!!!!

Hoje quando ia trabalhar, pus-me a olhar para as janelas - só - do meu lado direito, e 2 km depois já estava tonta e levemente nauseada. Oh bando de carneiros, que só sabe pensar e agir e rebanho! País pobre em ideias este, hein?!

Pois, argumentarão alguns, mas se calhar têm criancinhas em casa que pedem e insistem, e como os anormaizitos de vermelho e de olhos rasgados até são a €5 a dúzia (digo eu, que graças a deus não faço a mínima ideia), então ‘buga lá fazer a vontade à criancinha, enquanto lhe damos uma lição de ‘carneirísse militante’. Boa!

E o argumento das criancinhas cai por terra num país em que a taxa de natalidade é a vergonha que se sabe. Palavra de honra, não há tantas crianças como pais Natal nas janelas, senão este ano ainda nos habilitamos a levar o prémio de garanhões mais prolíferos da Europa!

Irra!

Eu também tenho duas criancinhas cá em casa (toda a gente sabe, mas é só para vincar um ponto), e, p’a minha rica saúde, juro que se pedissem, e depois do logicamente incontornável “NÃO”, tivessem a lata, o descaramento e a pouca vergonha de insistir, eu saía de casa directo para uma loja chinesa e comprava não um, mas DOIS fatos de Pai Natal, uma corda grossa, vestia-os e pendurava-os na janela (não se arrepiem, eu moro num primeiro andar…), mal por mal, sempre ganhávamos em originalidade.

Abaixo os pais natal nas janelas! Se a ideia era promover o espírito natalício, ‘tá mesmo a sair o tiro pela culatra… a gente até chora por 6 de Janeiro, para ver os gajinhos a desaparecer! Mas eu já pensei: e se… e se o diacho dos anões seguem o principio das bandeiras e só saem de lá quando caírem de podres?

Bom, gente, se assim for, vou seriamente pensar em mudar de país.

Pela minha rica saúde se não vou!

Irra!

(post 'a invasão veste de vermelho', escrito e publicado em terça-feira, 19.12.06)

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