Ainda João Paulo II
Pronto, se fosse um yogurte, já estava fora de prazo, mas como não é, e revista em questão andou perdida cá em casa, desde que a li, agora que a encontrei, tem mesmo de ser. Senão leiam lá o textozito que esta senhora, Isabel Silva de Lisboa, escreveu para a secção "Do Leitor" da (minha) habitual revista Sábado. Data de 6 de Abril.
Como a letra tá pequenina, e nem todos têm lupas à mão, eu vou transcrever a parte mais... ãhn... relevante...
"Para começar quero dizer que sou cristã, mas que não pertenço a qualquer igreja ou seita religiosa (...). O destaque que os média, e não apenas os de tutela católica, têm dado à doença [e a seguir à morte] do Papa João Paulo II suscita-me algumas considerações . Bem sei que a Igreja Católica Romana diz que o Papa (...)deu um exemplo de preseverança e coragem perante o sofrimento causado pela doença que o afectou. Isto é muito bonito de se dizer, mas no fundo são palavras ocas que revelam uma grande hipocrisia, quando o que estava em causa era o apego ao poder de um homem que deixou de ter condições para exercer as funções (...)."
COMO DISSE???
Eu acho muito dificil que alguêm leia isto se ficar a ferver por dentro. É que é assim (e vou i-n-e-v-i-t-á-v-e-l-m-e-n-t-e repetir-me...) :
Sou ateia (como todos os que me leem já sabem...), o que faz com que eu, como a senhora acima, não tenha ligação a qualquer religião ou seita religiosa. Mas ao afirmar a respeito do Papa que o "exemplo de preseverança e coragem perante o sofrimento causado pela doença que o afectou" foi empolado pelos media e pela Igreja Católica Romana, e que tal mascarou "o apego ao poder de um homem que deixou de ter condições para exercer as funções" não é sequer heresia.
É estupidez.
Primeiro: abstenhamo-nos de ver o visado como João Paulo II. Olhemos para ele como sendo um qualquer dignatário de um qualquer governo de um qualquer país. E agora, em consciencia, e com algum discernimento, atentemos se seria alguma vez possivel que esse homem tivesse um poder tão total e absoluto, sem conselheiros, sem um grupo de pessoas que, ao vê-lo perder faculdades, decidiriam por ele: ACABOU. Voltando ao facto real em si, em que o país em questão é o Vaticano, vamos de facto acreditar que o Papa tem um poder acima de qualquer um, põe e dispõe sem dar cavaco a ninguém? Até numa situação extrema como a recente?
Como é possivel que alguém tenha visto João Paulo II assomar-se à janela para dar a benção "Urbi et Orbi" da Páscoa, e ao invés de testemunhar o sofrimento e frustração de abrir a boca e não emitir um som, e espelhar a frustração e tristeza daí resultantes, tenha achado que se tratava de uma contrariedade para alguém àvido do poder de ver as massas aos seus pés... E frisemos, agora, que era João Paulo II, aquele que beijava o chão dos países que pisava, que foi sempre humilde, doce, e, enfim, a antítese daquilo que a leitora da Sábado, Isabel Silva apresenta nas suas considerações.
Ou seja, já sei qual a explicação:
Estamos a falar de pessoas e situações diferentes.
Só pode.
Fátima