Dos Homens da Luta, ou ‘… é que não há volta a dar-lhe…’
Eu 'sou do tempo' em que a televisão era a preto e branco e só haviam dois canais, que trabalhavam meia dúzia de horas por dia e encerravam cedo e boas horas ao som do hino nacional com a bandeira portuguesa hasteada a ondular ao vento num fundo de céu azul (nesta altura o hino ainda não era da Seleção). Eu 'sou do tempo' em que não havia grande escolha ou víamos o que dava ou íamos fazer outra coisa – alguém se lembra no pós 25 de Abril, qual imperialismo, qual capitalismo!, o Vasco Granja dava-nos grandes tareias de animação dos países de leste, e era para quem queria! Lembro-me que não gostava mas se queria ver bonecos, não tinha outro remédio…
Ora, nesses tempos idos da "pré-história", haviam dois grandes momentos televisivos e meio: o festival RTP da Canção; o Eurofestival da Canção, e o meio-grande-momento, a transmissão da eleição da Miss Portugal. Deixemos o meio, e concentremo-nos nos primeiros: era noite de festa jantávamos mais cedo comprávamos snacks, e era uma nervoseira a noite toda até se anunciar o ganhador. Portugal ficava sempre, como ainda fica, num lugar muito re-nhó-nhó, mas isso não diminuía a emoção, nem a gritaria cada vez que alguém dizia Portugal, one point, Portugal un point. Depois com o nascimento dos canais privados, e a explosão do cabo e da Internet, caiu totalmente em desuso a alegria kitsh do dito; volta e meia é furado por grupos como os Lordi grupo heavy (ou trash?) metal, que ganharam há uns anos, e lá se voltou a ouvir falar do dito. Depois, ZUT, black out outra vez, não por "segredo-de-estado", mas puro desinteresse.
Ora este ano a coisa fia mais fino. Não li, não sabia, não vi, mas parece que toda a gente leu e sabia que os Homens da Luta iam entrar no Festival, e viu, e as audiências devem ter feito história. Obviamente, e tendo em conta que andamos todos muito contentes (!!!!!!!!) com a situação política e económica, ganharam. E muito bem por todas as razões e mais alguma.
Olhando para eles temos a sensação que viajámos no tempo e voltamos a estar em 74/75. Acho que a Europa é capaz de estupidificar, mas nós sabemos. E é uma lufada de ar fresco, ó se é, farta que estou de bradar por estas bandas aos céus, falam, falam mas não fazem nada e tal. Pronto, eis um ponto de exclamação!
Não é inédito, Fernando Tordo tinha fintado – não se sabe, de todo, como – o lápis azul com “A Tourada” em 1973. E agora temos os Homens da Luta, a incitar ao fala menos e mexe-te mais, ó fáchavor, camarada, e isto uma semana antes da manifestação da Geração à Rasca, que vai ter lugar amanhã às 15horas (não sei se a concentração é no Marquês, se é nos Restauradores, se é na Praça do Comércio. Estou um nadinha a leste…), e vai ser, de certeza, o seu hino.
Por isso, e venha de onde vier a vontade ou empurrão, esta lufada de ar fresco é muito benvinda!
Bem hajam!