A minha filha
Eu já aqui falei da minha filha? Não falei pois não? Bem me parecia =o)
A minha filha está a viver em Londres desde o dia 11 de Agosto de 2010. Acabado o 12º ano, e depois de muita burocracia, de muita coisa que se pagou para ser feito e não foi, e que ela teve de ir fazendo, no dia marcado fomos levá-la ao aeroporto. Nem deu para a lágrima vir ao olho (aquilo é sono, não inventem, se eu digo que ninguém chorou é porque não chorou, canudo!), que o check in foi feito a correr (pudera, o raio do aeroporto é tão grande que para chegar à porta de embarque podemos levar 10 ou 15 minutos...), e 'tirei a foto', na minha memória, dela a dizer-me adeus, para lá da barreira de segurança... ok não ME estava a acenar, estava-NOS a dizer adeus, mas na minha memória ficou registado o olhar dela no meu. Prontx.
E foi, para um país que não conhecia, para uma cidade que nunca tinha pisado, onde não conhecia ninguém, com 40 quilos de bagagem, £400 e uma morada no bolso. Quando chegou ligou a dizer 'estou à espera da bagagem', e mais tarde, 'já estou em casa'. Ela praticamente tinha decorado a parte do mapa do tube que lhe interessava, e sabia o que estava a fazer.
Dois dias depois estava a trabalhar, que enrascada é coisa que ela nunca foi.
Passou, entretanto um ano. A Inês conquistou a sua independência - é completamente autónoma, e não deve nada a ninguém, 'faz pela vida', move céus e terra mas resolve os seus problemas e trabalha que nem uma doida para pagar as suas contas todinhas. O que mudou neste ano? Basicamente tudo. Mudou-se de um quarto pequenino numa casa com condições assim muito... poucas, para um quarto grande numa casa a sério. Passou para 'tour guide no London Film Museum, onde ainda trabalha. E está agora a participar no set do novo filme do Danny Boylecomo runner – o nome dela há-de aparecer nos créditos do filme – e ela é aquela menina que nem se aproxima dos atores – para quê, não me dizem nada – e fica com os outros todos, produtores, técnicos de fotografia, efeitos especiais... é aquela a quem dizem que pode ir embora às seis, e fica até às oito, só para ficar a vê-los trabalhar, para aprender como se faz...
A minha Inês é uma Mulher com um M muito grande, uma mulher de armas que não baixa os braços e vai à luta, e pode morrer a lutar, mas luta até morrer.
Um dia a minha Inês há-de subir ao palco do Kodak Theater e há-de dedicar o Óscar à mãe, como combinámos, mas até nem é que a mãe o mereça, porque tem estado menos presente de que sente que devia, sem poder fazer nada senão dar-lhe ânimo, e lembrá-la da pessoa fabulosa que a minha Inês é.
Um dia a minha filha há-de ser reconhecida por ser a pessoa GRANDE que é, e que tem o mundo aos pés, porque o pôs lá. Nada lhe veio parar às mãos, ela tem ido atrás de tudo, e tem tecido a magnífica tapeçaria que terá um valor incalculável, sempre.
Um dia, a minha Inês já não é minha. A minha Inês não é de cá, nem daqui. A minha filha nasceu portuguesa, sente-se portuguesa, mas no fundo não tem nacionalidade: nunca a frase de Sócrates encaixou melhor a ninguém: 'eu sou um cidadão do mundo'.
A minha filha é de onde estiver. Pode ser em Londres, pode ser em Los Angeles, pode ser cá, quando vem passar o Natal connosco.
Eu sou mesmo mesmo fã da minha filha.
E, quando eu fôr grande quero ter metade da força dela.
(adoro-te, miúda, e tou com saudades. Não mudes, ó fáchavor!)