Dramalhão de caixão à cova, ou Ai Carina dum catano...
Estou aqui a ver a Activa deste mês, e passou-me agora entre os dedos um artigo de seu nome 'Epilepsia sem dramas'.
Qual epilepsia sem dramas!
Ontem à noite rendi-me às evidências de que a gaiola (ou jaula, como gosto de lhe chamar) das gerbas tinha de ser mudada (já vão perceber a co-relação). É que as evidências já me tinham tocado na ponta do nariz, eu é que capitulava sempre... ah, à hora do almoço não, que se alguma foge, não consigo ir trabalhar de tarde, levo o resto do dia à procura , e ah, boa, agora que ía limpar a gaiola não encontro as raspas de madeira! Dia seguinte saio de casa mais cedo, e páro na loja dos animais para comprar as raspas. De 'brinde' - para as ratas, não para mim, que o paguei – trago um tubo de cartão cheio de algodão comestível, para fazerem a 'cama'. Escusado será dizer que à noite “esqueci-me” de mudar a gaiola. Mas ontem decidi-me: hoje é o dia. Agoniada (já vão perceber porquê) de antecipação, mal vi que a Piccolina tinha saído do meu quarto (onde estivera a dormir duas ou três horas sobre a cama), agarro na gaiola e 'bora lá'! A piolhita ficou do lado de fora da porta a chorar durante toda a operação... mas o que interessa nem é o que se passou do lado de fora da porta... é mais o que se passou – e passa sempre – do lado de dentro...
Ora bem, eu acho que aqui há coisa de um ano, quando adotei as ratinhas, contei por aqui que quando lhes mudava a gaiola, a Carina tinha sempre um fanico. Acho que contei, se não contei, fica contado. Agora de cada vez que lhe mudo a gaiola, o fanico é maior. Tem sezões, fica imóvel e, ato contínuo... dispara. Dispara numa velocidade indiscritível contra as coisas que estiverem no caminho. Descobri que se a tapasse, ela parava de disparar. Funcionou duas vezes. Mas ontem não, de todo. O bicho começa a tremer, imobiliza-se, e eu tapo-a com o lençol. E começo a ver o lençol em sopetões. Ede repente, zzzzzzzzuuuuuuuuttttttttt, e aterra em cima de uma pilha de livros do meu lado da cama. Salto para a agarrar, mas zzzzzzzzuuuuuuuuttttttttt, e bate com a cabeça numa das caixas de plástico que estão debaixo da cama. Vejo-a imóvel, estico as mãos, toco-lhe, mas o bicho parece uma enguia, e foge-me por entre os dedos. De um salto, atravessa a cama de um lado ao outro, e dá cabeçadas nos sapatos do Vitor, oiço, que aquilo é velocidade demais para mim.
Rodopio e debruço-me para tentar agarrá-la, ao mesmo tempo que 'controlo' a Chiara, que anda toda feliz a fazer o perímetro da cama, escondendo-se entre as almofadas.
Baixo-me, agarro na Carina e embrulho-a numa toalha, que ponho sobre a cama, por baixo do lençol. Imobilza-se completamente, soerguida, a respiração pesada. Tiro as raspas sujas de dentro da gaiola e passo-lhe um pano húmido. Ponho as novas, e o algodão. Entrementes, juntei a Chiara à Carina e estão a brincar. A Carina estaca cada vez que digo o seu nome, em pé, diz-me no pasa nada! e segue na brincadeira com a Chiara. Habitualmente deixo, mas hoje não. Pego na Carina e meto-a sobre as raspas de madeira, e encosto as grades. A Chiara, que adora que lhe mudem a gaiola para andar à vontade, foge, mas lá a agarro (o pelo delas é tão sedoso que as gajas escapam com uma facilidade do camandro...) e tunga para junto da irmã. Fica danada e põe-se a roer as grades, tant pis!, quero lá saber. A minha respiração está afanada, entrecortada, nem sei bem.
Agarro na gaiola, abro a porta e a Piccolina saúde-me com um 'tava a ver que não, porque é que demoraste tanto, avózinha, e eu respondo-lhe é trrréu, é! Eu dou-te o trrréu!
Caramba, uma gata zarolha que não sabe fazer minhau, e uma gerba epilética!
Entro na sala, e o marido pergunta 'então como é que foi?', e eu respondo-lhe com um revirar de olhos enjoado enquano pouso a gaiola 'pior que das outras vezes, e desato a metralhá-lo com palavras a descrever o acontecido. Estou sem folego, a adrenalina tinha de sair, mas continua a custar-me a respirar, estou agoniada e penso é sempre a mesma coisa.
Para a próxima vez vou armada de caixa de cartão. Acabou-se a liberdade, caracoles!
Assim não chego a netos, chiça!