Ainda o António
“(...)
O meu pai no sofá,a minha mãe na moldura, coitada: uma pneumonia traiçoeira levou-a numa semana. Perguntou
- Não estou lá muito bem, pois não?
E minutos depois desapareceu toda atrás das pálpebras. O meu pai pegou-lhe no pulso
(o meu pai era médico)
largou-o no lençol onde o pulso caiu, feito objecto, uma frase sem palavras no bigode e acabou-se. Sobrou um silêncio grave no apartamento, que o pêndulo do relógio da cómoda cortava às fatias O relógio está comigo agora mas não corta o silêncio às fatias porque não lhe dou corda e detesto que tratem o silencio como se fosse uma torta ou um bolo-rei.”
Fechei o livro. Não há nada que se possa dizer sobre isto.
Nada.