'O último segredo', é que não há segredo nenhum na escrita de José Rodrigues dos Santos...
Que o novo livro de José Rodrigues dos Santos vai vender, disso não tenho dúvidas – não sei é se uma boa parte será pela razão eticamente certa...
Confesso já que uma das minhas paixões é a lingerie das religiões... interessa-me sobretudo o que não se diz, não se escreve e, mais interessante ainda, o que se omite e o que se esconde. Acho fascinante - como quase toda a gente, não resisto a uma boa conspiração, e a religião é um dos meus temas favoritos (aqui, aqui e aqui). Podia facilmente fazer um mestrado em filosofia das religiões, não porque perceba muito sobre o assunto, mas porque adorava perceber mais.
Posto isto, entendo a paixão que move as pessoas a escrever sobre a vida do Cristo, oh se entendo. Entendo todo o processo de pesquisa que envolve a coisa, e o fascínio sobre a mesma. E até compreendo que alguém como (digo eu) um jornalista-na-pele-de-romancista como JRS se aventure nesse campo.
Não, e afirmo-o peremptoriamente, aceito que transforme essa pesquisa que suponho séria, num relato que se afigura como uma clonagem do modelo de Dan Brown. Considero moralmente reprovável, fazê-lo, independentemente do prazer que me desse passar tal ideia para o papel. E acho de um levianiasmo atroz os contornos em que o faz.
À questão de recear ou não, ser comparado a Dan Brown, JRS diz não se incomodar, assumindo que este é um romance 'danbrowniano', mas que “muitas informações que o Dan Brown usa são meias verdades e falsidades. Ao contrário dos livros dele, o meu só se baseia em informação histórica verdadeira1)”. Ao sublinhar as diferenças que os separam refere que “O Dan Brown faz umas coisas esquisitas. Acorda às 4:00h, pratica ginástica, faz o pino durante meia hora e começa a escrever às 5:00h. Eu não1)”.
[Se calhar devia, não resisto a dizer...]
Portanto, como disse logo no inicio deste post, o novo livro de José Rodrigues dos Santos vai vender, disso não tenho dúvidas. Até eu senti o impulso de o adquirir para comparar com 'O Código daVinci' assim taco-a-taco, do incomodada que esta estória me deixou. Mas se não o farei, mau grado as deliciosas horas que passaria, com os dois livros junto de mim, a tirar apontamentos (ou como diria JRS, a fazer uma pesquisa séria e verdadeira), não vou pactuar com este coup de theatre que vai rechear a conta bancária de JRS, sem que este o mereça. Até porque há uma serie valente de livros que me interessam neste momento, e não tendo nunca lido qualquer obra deste, garanto que, não só não vou ler esta, como descartei a hipótese de ler qualquer outra. Mais: não vou voltar a olhar para o profissional da RTP da mesma forma: alguém que plagia outrem desta forma não me parece poder ter qualquer resquício da ética que se pede a um bom jornalista.
Também não me parece que seja particularmente inteligente, que um autor que tem livros traduzidos em 17 línguas, com um contrato milionário com uma editora americana, se digne a, numa entrevista de pré-publicação da nova obre aquela que é considerada a 'Time portuguesa', se refira a Dan Brown de forma menos respeitosa - tendo em conta a situação, mostrar alguma cavalheirismo não lhe ficaria nada mal; bastava omitir determinados comentários...
Eis senão quando muito boa gente vai ficar expectante à reação do escritor americano... este poderá ignorar a situação, ou não - aposto na segunda, tendo em conta o valor do contrato com a HarperCollins...
Aqui estaremos para ver.
De qualquer maneira uma palavrinha só a José Rodrigues dos Santos: mau. Mesmo muito, muito mau.
1)in Sábado, edição de papel nº390, de 20 a 26 de Outubro de 2011