A pior mãe do mundo*
Aqui por estas bandas, a televisão é ligada pelo marido: de manhã, antes de ir para o trabalho, vê a Sic Notícias enquanto toma o pequeno almoço, e depois volta a ligá-la quando chega e vê qualquer coisa (nomeadamente o Eurosport), enquanto lancha. A seguir vai para o ginásio, e aí, sim, a tv fica ligada.
Como boa gaja que sou, ligo-me a um canal de gajas-e-donas-de-casa, neste caso o TLC, até há hora do noticiário. À segunda vejo o What not to wear, à terça o Extreme Couponing (honestamente, oiço enquanto me enterto no pc. Não há cu pachorra para estar uma hora a ver pessoas comprar coisas que não precisam sem gastar um tostão, só porque isso mesmo...) À quarta via o Sister Wives (pura curiosidade, e vai lá vai que aquela gaita deixou-me sempre com os sentimentos mais contraditórios...), mas ontem foi dia de estreia de 'World worst mom', que vi com o Tomás.
Comecei por gracejar que há muita gente que me deve ter rotulado com tal título. É mesmo verdade, e às vezes até eu ponho em causa se não sou demasiado pragmática. Pragmatismo pode ser confundido com frieza, e isso às vezes põe-me a pensar...
Depois fomos falando ao longo do programa, e eu lá fui consolidando uma"certeza"
(se é que alguém pode arrogar tal isso):
de que a única coisa boa e bem feita nestes 44 anos, foi a forma como encarei a maternidade e a forma como eduquei (e vou educando) os infantes.
Passo a dar exemplos práticos:
- se não come é porque não tem fome, quando tiver fome logo diz - podes levantar-te da mesa (isto num almoço de família faz um sucesso que só visto!);
- se tivesse frio vestia-se, que tem roupa. Se anda de barriga de fora, claramente não tem frio /eu, obrigá-la/o a vestir mais roupa? Sente a temperatura tanto quanto eu; se não se agasalha é porque não sente frio;
- chapéu de chuva? Eu também não usava quando era miuda, nem uso, é claro que não usa(m)!
- se cair, levanta-se;
- se quiser comer, pede (ou, já mais crescidos) sabem onde está a comida, tem duas mãozinhas, desemerd@m-se;
- têm telemóvel, se precisarem, ligam.
Por aí. Mas existem situações dificeis... cada vez que eles tinham uma visita de estudo, na véspera esforçava-me para não haverem situações aborrecidas, e quando os levava ao autocarro, tirava fotos mentais, já que tinha presente que podia ser a última vez que os visse com vida (o vice-versa também seria uma hipótese). A acontecer alguma coisa queria que ficassem memórias boas. Mas NUNCA evitei que os meus filhos fizessem o que quer que fosse por via da lei das probabilidades. Isso seria egoísmo da minha parte!
A 'foto' de memória mais nítida que tenho 'guardada' é a da Inês, no dia 11 de Agosto de 2010, passada a barreira de segurança do aeroporto, cabeça virada para trás, olhos com um brilho de expectativa e saudade antecipada a sorrir e dizer adeus - nunca antes tinha sentido de forma tão forte e nitída a certeza de que podia ser a última vez que a via.
Não a tentei segurar aqui, encorajei-a a abrir as asas e voar, e ela lá anda em cima a voar tipo avião supersónico que volta-não-volta apanha valentes poços de ar, mas a vida é sempre (para uns mais, para outros menos) assim.
Agora combina-se que o puto vai passar um mês com ela nas férias. Lá vou eu fotografar outra vez o olhar de um rebento depois de passar a barreira de segurança. Mas acho otimo. Vai ser um desafio dos diabos, andar de bus e tube sózinho (ela só vai estar com ele 24/7 nos primeios dias), e desenrascar-se com tudo... quando voltar a aterrar, estará pelo menos um ano mais crescido!
Quem tem telemóvel não se perde por completo. Isso e boca. Ele fala quase melhor inglês que português, portanto...
Agora contem-me: o vosso estilo maternal é muito diferente do meu ou nem por isso? Eu sei que até parece mal, mas das vezes que, no hipemercado, o Tomás fazia birras, deixava-mo-lo a chorar e viravamos costas. Invariávelmente, ia a correr atrás de nós e parava a birra - MAS das primeiras coisas que ensinámos aos dois foi que se alguma vez se perdessem de nós, deviam dirigir-se a um segurança ou agente.
Uma pessoa só pode dar-se ao luxo de ser a pior mãe do mundo se tiver acautelado as premissas obvias. Embora possa não parecer, a verdade é que, tanto quanto possível, as variáveis estiveram sempre controladas. Sem ansiedades nem angústias. Não os probí nunca de subirem a árvores mas fiquei, como-quem-não-quer-a-coisa suficientemente perto para os apanhar se caíssem.
P.S: Resultados práticos da aplicação dos exemplos que dei, acima: nenhum deles é obeso; nunca ficam doentes (tirando as rinites e sinusite, que não derivam da utlização de maior ou menor quantidade de roupa e/ou guarda-chuva). Confiança recíproca.
*World's worst mom", TLC terças-feiras, 19:10h