Não vi nenhuma das versões anteriores da mesma em celulóide;
Não vi o musical em palco.
O fato de estar em exibição no West End desde 1985 diz qualquer coisa sobre a qualidade da coisa, mas o meu conhecimento ficava-se por aí - isso e mais o saber que era um dramalhão 'de caixão à cova'.
Facto:
Do mesmo autor, "O Crocunda de Notre Dame", editado em 1832, foi considerado o seu maior romance histórico, e antecedeu "Les Misarables", publicado em 1862, tendo sido inicialmente publicado apenas um excerto da obra total, "Fantine", e posteriormente, a obra completa, que, não tendo sido bem recebido pela sociedade francesa contemporanea, terá conhecido um sucesso imenso, tendo sido adatado ao teatro, à televisão, ao cinema e a musicais, como é certo e sabido.
E é sobre isso que falo hoje.
Não seria de esperar outra coisa senão uma grandiosidade elefantina nesta adaptação ao cinema. Começando pelo investimento imenso.
E tudo resulta nesta adaptação da obra ao grande écran.
Resulta a reconstituição da época - e outra coisa não seria de esperar - a grandiosidade impressa logo no início, e a e interpretação de cada um dos atores.
Contrariamente a muitos críticos de cinema, considero, euzinha, espectadora, que os grandes planos só enriquecem a obra.
Hugh Jackman, e o seu Jean Valjean consegue, ao longo de 157 minutos, fazer-me sentir o seu desespero, angústia, afirmação, apreensão, amor, aflição... o olhos nos olhos com o espectador, quanto a mim, é importantíssimo, e desmascararia uma má atuação. Hugh Jackman, por essa ordem de ideias, é soberbo.
Passando a Javert, interpretado por Russel Crowe (e informo desde já que desconhecia o fato do mesmo ter uma banda - e não é a primeira - e ter já alguns álbuns editados, coisa que o meu infante sabia muito bem...), pareceu-me a mim que o 'cantado ao vivo', que pautou a filmagem, no seu caso terá sido alvo de algumas misturas... ou então estou só a ser má língua... Mas para o seu desempenho está assegurado um aplauso merecido.
Anne Hathaway, Fantine, tem um papel "curto" em termos de duração (chegará, quiçá, a um terço do filme?), mas imenso em termos interpretativos. Segundo a própria, foi um trabalho que lhe doeu, e essa dor é talvez tão visível como a de Jackman. A sua frescura habitual vai desaparecendo sob as camadas de angústia que surgem à medida em que o seu sonho se materializa no pesadelo em que a sua vida se transmuta - mas não é possível esconder a beleza indesmentível da atriz.
E o restante elenco cumpre, igualmente, o seu papel. Amanda Seyfried (Collette), que só tinha ouvido cantar em "Mamma Mia", recordou-me uma das poucas vozes de que consigo gostar apesar do vibratto da mesma (e as vozes com 'trinados' irritam-me sobejamente). E Eddie Redmaine (Marius) surpreendeu-me muito positivamente, a par com Samantha Barks (Éponine).
Diz-se à boca pequena que vai "varrer os óscares" mas sobre esse assunto não faço previsões. Ficarei inconsolável se o de Actor in a leading role não for parar às mãos de Jackman, mas quem sou eu para vaticinar prémios numa cerimónia que resulta da intresecção de premissas que ultrapassam a qualidade do ator, realizador, filme, etc., em suma, o cinema per si.
E para além do mais, temos de esperar pela próxima quinta-feira 10 de janeiro, para tomar conhecimento das nomeações, e medir "a concorrência".
Recomendo vivamente!
Mas, para quem está com dúvidas:
este filme É um musical. Se presume não 'aguentar' 158 minutos de cantoria, não vá ver. Perde um filme com um F muito grande mas... prontx...
tem medo de ter de levar uma caixa tamanho jumbo de 'kleenex' por companhia? Não receie - nem leve.Basta um lenço - mas esse, acredite, vai usar.
Vai, como diz a Tentações, ver muitas laringes? Se calhar vai - eu não vi. Onde os critícos de cinema da Sábado viram epiglotes, eu vi olhares.