Seg | 11.03.13
Eu e as planificações...
Fátima Bento
Não gosto de fazer planos. A serio, não gosto mesmo.
Acho piada (não tomem isto como ofensivo, nem nada do género, p'amor da santa) àquelas pessoas que se organizam, por exemplo, para o que vão ler nos próximos três meses. Acho.
Eu, que leio que me desunho, mas até podia ler mais e sei bem disso, não me consigo imaginar a fazer uma lista de títulos, quiçá a empilhar os volumes e a decidir são estes. Até dou de barato que a ordem fosse aleatória, mas aflige-me. Daqui do sofá, olho para a estante e vou dar um exemplo... um por semana até ao final de Abril:
Março
- semana de 09-16: A Cabana Wm Paul Young
- semana de 17-23: Ilha Teresa Richard Zimler
- semana de 24-31: Memória de elefante António Lobo Antunes
Abril
- semana de 01-07: Auto-retrato do escritor Haruki Murakami
- semana de 08-14: Maudit Karma David Safier
- semana de 15-21: Inteligência, Osho
- semana de 22-28: The cradle will fall, Mary Higgins Clark
Bonito, não é? Bonito, fazível, arrumadinho, e, aqui é que reside o busílis da questão, previsível.
Por exemplo, agora estou a ler um livro no reader, acho que se lhe pode pôr o selo de policial, embora eu prefira chamar-lhe thriller, já que não mete polícia (os da Mary Higgins Clark também não, e são policiais, por isso...) que se chama 'You dont want to know', da autoria de Lisa Jackson. Li a 'amostra' na sexta à noite, e comprei o livro na manhã seguinte. E é um prazer fazer assim: apetece-me.
Argumentos contra: o preço não vale, o livro custou-me pouco mais de que uma revista, €5,40. Por isso passemos ao argumento que pesa mais na minha consciência: quilos de livros por ler nas prateleiras. E eu a saltitar e a procurar coisas novas enquanto deixo para trás o que já tenho. Mau, muito mau, dona Fátima!
Acho que das largas dezenas de tomos que povoam as prateleiras, nem 50%/50% se podem considerar lidos/por ler.
Mas a questão aqui, é programar um prazer.
Li no final do ano passado, um livro da Laura Vanderkam, "168 hours, You have more time than you think". É muito bom, mas assusta-me um bocadinho a ideia de primeiro, fazer a contabilização, quase ao minuto, de como gastamos as nossas 168 horas numa semana 'normal'; depois a posterior planificação de onde podemos cortar excessos, a substituir por outras tarefas mais úteis - e a definição de útil aqui pode aplicar-se ao que nos dá mais prazer, não é tratar-nos como se fossemos máquinas... - embora eu fique sempre com essa sensação.
Quem já leu 'O poder do agora' de Eckart Tolle, ou está por dentro da filosofia zen-budista (e, já agora, Osho fala sobre este mesmo assunto em 'Liberdade', da lista acima, e que também estou a ler agora), terá uma ideia do que estou a falar. O importante não é planear o que vou fazer... o importante é o que faço, porque só tem valor o que se passa agora, não que se passou há uma hora, nem o que se vai passar daqui a cinco minutos.
Isto já para não mencionar as expectativas: fazes a lista surgem atividades inesperadas, e começas a derrapar, o que vai criar-te ansiedade, que vai aumentando à medida que o tempo vai passando e os livros começam a escorregar para fora da 'time-table' que criaste, e acabas a sentir que falhaste. Parar evitar isso, também podes desandar a ler numa velocidade demasiado acelerada para desfrutares do conteúdo do livro, e esqueces que o verdadeiro prazer da viagem consiste em percorrer o caminho, não em chegar ao destino, passo o cliché.
Não se enganem, porém: gosto de listas. De fazer listas, de ler listas, mas listas sem prazos de validade. Os prazos arrepiam-me um bocadinho, para não dizer um bocadão.
Há forma de atingir objetivos sem nos colarmos datas no calendário, e que resultam.
Sugestão: conheçam um senhor chamado Leo Babauta. Além de uns quantos livros editados - em inglês ou francês - tem um blogue fantástico, que podem conhecer aqui. Vale a pena, muito a pena.