E é isto.
Com a cabeça em vazio. Assim, sem nada dentro, por uns segundos. Respirar fundo, só respirar. Sentir o sangue a passar nas veias em velocidade de TGV, a vontade de atirar coisas à parede. Puxar da lamela e engolir 5 mg que eram para daí a duas horas. Respirar fundo outra vez. Encostar o ouvido ao corpito para ouvir o romron fechar os olhos e pensar que não existe mais nada, nem ontem, nem amanhã, nem sequer logo, só agora, só ron-ron-ron-ron. Esconder os olhos atrás das mãos em concha, que encobrem também o rosto. O quê, senhores, o quê? Tempos houveram em que fez coisas bem feitas. em que soube fazer coisas. Tempos houveram em que escrevia bem, escrevia mesmo bem, escrevia tão bem que era a única coisa que acreditava fazer bem. E afinal, só isso não chegaria. E hoje já não acredita que um dia escreveu bem, escreveu mesmo bem, escreveu tão bem que era a única coisa que fazia bem.