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Out13
valter hugo mãe
Fátima Bento
Há bocado escrevi no facebook
por acaso nem estava a pensar em quem, e no que vou escrever a seguir. Mas adequa-se.
Há-de haver por aí muito boa gente fartinha de me ouvir citar e louvar o António Lobo Antunes. Mas aturem-me lá mais um bocadinho: ele disse, há uns tempos, uma coisa parecida com isto, 'quando escrevemos um livro, ele só é nosso até ser editado, ao ser comprado pelo leitor deixa de nos pertencer', a história, tal como 'o livro, passam a ser dele'.
Eu acho que esta ideia deveria ser a pedra basilar de qualquer escritor. O seu juramento de Hipócrates. Porque quem for ler o que escrevi vai colar-se a momentos, pequenos nadas, passagens, de maneiras tão dispares quanto as vivências de cada um.
Não há, nem pode haver, um direito de propriedade sobre o texto, a frase, os dizeres de um livro, um capítulo, uma pagina, uma frase, uma palavra que seja.
Não é meu.
É de quem o lê.
E a sombranceria, a arrogância, perdoem a liberdade literária, a cagança, com que alguns autores ocupam o pódio naquele momento em que o livro é lançado, no centro daquela fogueira de vaidades, é uma coisa que me transcende, irrita, enjoa.
valter hugo mãe, cujo 'a desumanização' aterrou na minha mesa da sala, e que tenciono ler nas duas ou três horas que me deve demorar, é um bom exemplo daquilo que um escritor não deve ser.
A sua postura no lançamento do referido livro mostrou-me tudo a que um autor se deve furtar.
Com prémios, sem prémios, vaiado ou aclamado, a verdade é só uma.
Temos todos a nossa medida, que não se altera consoante a altura da pilha de galardões acumulados - e cuja atribuição só nos deveria fazer sentir mais pequeninos, mais responsáveis.
E no fim, mesmo no fim, não sabemos mesmo nada, o filosofo bem o dizia...
(nada do que disse acima tem qualquer ligação com a lei de proteção de direitos de autor, e com o não à cópia. Penso que isso seja claro, mas se não fui explicita, fica aqui a minha opinião expressa)