Razões da minha relação amor/ódio com os Bimby/Yummi/Cuisine Companion (da Moulinex, mesmo aí a rebentar)
Sou uma dona de casa de cocó. Já toda a gente sabe e quem não sabe fica a saber. Despistada. Desorganizada. E tudo, tudo, tudo o que quiserem juntar. Sou eu.
Por isso seria de esperar que fosse louca por uma coisa destas, não? Eu não gosto de lhes chamar robots de cozinha - isso é o que eu comprei este mês, e que corta, rala, bate, mistura, amassa, tritura, etc. Já estas 'coisas' são assim sec XXI até à medula, e eu já tinha um robot multifunções há 20 anos quando casei - não era tão rápido nem tão perfeitinho como este que comprei agora, mas até era Philips na mesma.
Estas maravilhas que é descascar-o-que-for-de-descascar, atirar lá para dentro pela ordem certa e ir carregando nos botões, deixam-me numa ambivalência desmedida.
Já passei pela fase de babar pela Bimby. E NUNCA ASSISTI A NENHUMA DEMONSTRAÇÃO, fujo de tal isso como o diabo da cruz (não me metralhem com 'ofertas' da dita demonstração, que se eu comprasse alguma agora, optava por gastar menos €600, ok?). É pá, a ideia de click, click, click, poder despistar-me à vontade sem estragar (pegar/queimar) nada, e trrrim, À TABLE!!!!!, é uma tentação do caraças.
Mas.
É pá, toda a gente sabe que eu gosto de ler. MUITO. E pronto, de escrever, certo. BUÉ. E de cinema, que me pelo por um filme, e então se for bom, senhores, ando a pairar durante um (bom) tempinho. Saberão menos que não passo sem musica, e que sou super eclética, embora repetitiva no dia a dia - faço as minhas listas, ponho em repeat, e cá vai disto, horas seguidas. Com voz, gosto muito do jazz do Collum, da Krall, gosto do Rat Pack , dos crooners como o Harry Connnick Junior, por quem tenho um respeito extra, do Bublé, e até do Robbie Williams, na fase 'Swing When You're Winning'. Aliás, gosto do Williams das fases todas e tenho o concerto de Knebworth como uma das coisas mais fabulosas feitas por um gajo em palco sózinho até hoje. Sem aqueles extras todos das Madonnas e Gaga's, adereços e bailarinos, um gajo, um palco e alguns bailarinos de apoio, tudo muito be-á-bá, muito fantabulástico. {Esse concerto e os primeiros dez minutos do filme 'Operação Swordfish', é pá, um dia destes hei-de falar sobre isso...!}
Mas hoje estou a falar sobre Faz-Tudos de cozinha.
Mas ainda falando da minha mais discreta e pouco divulgada face de amor à musica, ouço Bach pela vida, Beethoven porque sim, e ás vezes, Tchaikovsky porque me faz bem à alma (a valsa da Bela Adormecida ou a abertura de Romeu e Julieta, quem resiste?). Comovo-me com o 'Coro dos escravos' do Nabucco de Verdi, arrepio-me com a 'Carmina Burana' do Orff, extazio-me como 'Bolero' do Ravel. E amo Rodrigo Leão, e Hanz Zimmer, mais Michael Nyman...
Na cozinha, que é do que falamos aqui, gosto dos saltinhos do Gordon Ramsey, de vestir a jaqueta en poil em todos os programas, e da forma como cozinha. Gosto da voluptuosidade da Nigella Lawson, por oposição ao fantástico Nigel Slater, com cujos programas me derreto. E claro, gosto do mediático, popstar, energético, bombástico, Jamie Oliver. Não há volta a dar: vê-lo cozinhar dá-me comichão nas mãos, vontade de ir à despensa e correr para a cozinha.
E ponho, sem qualquer hesitação, Literatura, Cinema, Musica e Gastronomia na mesma prateleira: cozinha É cultura.
Por isso, digam-me: onde fica o engenho, entre cada click, ou mesmo antes do primeiro? Onde fica a arte, o coração a alma? A, arrisco, paixão [até eu, que me descabelo na decisão do-que-fazer-para-jantar, na chatice dos tachos e panelas, da atenção requerida enquanto-o-mundo-passa-lá-fora-e-não-espera-por-mim (a sensação estupida com que fico sempre), às vezes cozinho com e por paixão]. Onde fica a obra? No empratamento, que saído do faz-tudo mais não é de que colorir sem passar a linha?
Não, não garanto que um dia não me venha a render a um faz-tudo.
Mas nesse dia perde-se um bocadinho de mim - em criatividade e qualidade.
E sim, é esse o meu 'dilema'.