Chocada...
Nunca pensei que chegasse realmente a isto.
Eu oiço - ouvimos todos falar na crise. Eu vejo e digo que este ano o espírito natalício tirou férias, e que nem parece que é Natal. E no café, entre a bica escaldada e a conta, comentam-se os despedimentos, ou dispensas que os patrões estão a fazer nesta altura do ano - mesmo na construção civil, que à partida dava sempre para quem se via ' de corda à garganta’.. A gente comenta, paga a bica, e segue com a nossa vida normal e confortável de quem crítica o consumismo desenfreado em que o Natal se transformou, enquanto paga € 150 ou €200 (e às vezes mais...) pelo gadget que o filho pediu.
E depois, estou no quentinho e conforto da minha casa, onde criticamos tudo e todos, e nos lamentamos e nos queixamos dos nossos imensos problemas, imensos que nos parecem do tamanho do mundo, só porque não podemos comprar o Mp3 de 2 gigas e vamos ter de comprar o de 1 giga (coitadinha da criança!), quando toca a campainha. Ao abrirmos a porta deparamos com um homem, uma pessoa que podia facilmente ser eu, o meu marido, o meu melhor amigo, e que, enquanto me mostra um cartão dos bombeiros ( como comprovativo de que é pessoa de bem...), me diz que tem dois filhos, perdeu o emprego, e é Natal. E é então que os meus imensos problemas, me caem ao chão, e descubro que não sei nada, NADA de nada, e que a vida é muito mais que o meu pátio.
Os olhos do SENHOR (porque é preciso ser um grande homem e um senhor para pedir para os filhos), postos no chão de embaraço fizeram-me sentir miserável e mesquinha por lhe ter estendido os €5,00 que lhe dei. E se ele tivesse levantado os olhos e os tivesse posto nos meus, via que ali o embaraço, obrigatório, não era de quem pedia mas de quem dava. E quanto a quem não deu - que os terão havido - palavra de honra, que não há palavras...
Foi hoje que eu descobri o que é o Natal. E aprendi que não é nada do que acreditei ao longo destes muitos anos de vida. E descobri que os voluntariados que eu faço não são nada comparado com a realidade crua do que se passa à nossa volta e que não queremos ver. E se pudesse ia ter com o homem agora e dava-lhe muito mais do que lhe dei, porque o dinheiro é só papel.
Bolas!
Fátima