Referendo: somos Europeus!
É caso para dizer finalmente.
Para quem ainda não sabe - e eu acho que já aqui expliquei porquê (só que não estou neste momento com acesso ao blogue para verificar o histórico e procurar a respectiva entrada, mas se e quando a encontrar ponho o link aqui - e cá está ele: http://donadecasa.blogs.sapo.pt/36427.html#comentarios) - eu sempre defendi a despenalização do aborto. E, penso eu, avisadamente - e dar-me-ão (ou não) razão quando lerem o referido post.
Estamos, então, todos de parabéns por termos conferido às mulheres a liberdade de escolher.
- não significando isso, e talvez eu esteja a ser um bocadinho naïf, a promoção da desresponsabilização do acto de interromper uma gravidez, e de inviabilizar (e aqui começa a minha aparente contradição) uma vida em potencial.
Não deve sê-lo.
A partir de hoje, é nossa responsabilidade acrescida criar condições para que quem decide fazer uma IVG por falta de alternativas viáveis, possa contar com pelo menos mais algumas. Cumpre-nos como cidadãos, os mesmos que demonstrámos hoje ser mais esclarecidos e responsáveis de que muitos ‘velhos do restelo’ advogavam, engajarmo-nos em lutar para que a lei que determina os trâmites de adopção seja alterada para que a mesma seja facilitada, e que os apoios que os militantes do “não” embandeiravam em arco para defender a sua posição sejam uma realidade, e deixem de haver uma ‘Ajuda de Mãe e uma ‘Ajuda de Berço’, para passar a haver muitas mais.
Urge criar campanhas nas escolas para informar e responsabilizar as adolescentes - e para quem olha com cepticismo para o efeito destas campanhas, devo dizer que eu também olhava. Até o meu filho de dez anos me perguntar “ó mãe, quando duas pessoas estão casadas, ou isso, e querem engravidar, como é que fazem, se é preciso usar sempre o preservativo?” Explicação dada, consegui aperceber-me até que ponto o preservativo já se tornou indissociável da noção de vida sexual. Aplausos devidos à(s) escola(s), à irmã, a mim, ao pai, à MTV (não, nunca pensei que viria a dizer isto) e a todos os que ajudaram a interiorizar o conceito. E se esse conceito, que em 1988, 1990 me fazia revirar os olhos não na dúvida mas na certeza (a gente nessa idade é toda certezas…) que não havia forma ou maneira de tal ser possível.
E “ho and behold “, 17/19 anos depois: eu estava errada!
(Vai buscar!)
Se isso foi possível, também uma sexualidade responsável é possível. Aliás, aqui a maria-do-copo-meio-cheio acha sempre que tudo é possível.
Por isso, sim, estou muito contente pela vitória do sim e da liberdade (responsável, p.f.) de poder decidir o que às vezes é uma saída única. Não tenhamos nunca a leviandade e a arrogância de achar que sabemos tudo, e que temos a resposta, e que esta é só uma.
Por isso, façamos de hoje, 11 de Fevereiro, uma data que já é histórica, algo de que nos possamos orgulhar. Para sempre.
Fátima