Cidadania de 10 anos
“Hoje fiz uma participação da minha professora de Inglês”, anunciou solene.
Olhei para ele por cima dos óculos (que não vejo nada com eles postos, numa distância superior a um metro, descansam-me a vista, mas incapacitam-me seriamente…), adulto em ponto pequeno, o mesmo que quis usar o livro amarelo (vermelho!) no Continente, porque lhe tinham alegadamente vendido um dossier ‘deficiente’, e tinham que se responsabilizar por o dito não ter durado duas semanas. Deixei os óculos pendurados no fiozinho de couro que os ampara e endireitei-me na cadeira, num esforço de me manter à altura de semelhante gesto de cidadania.
“O pior é que me disseram que não vai seguir.” Ahn? “A DT não vai fazer nada. Mas está mal, está mesmo mal”.
Não era assunto que eu não conhecesse, a visada na participação tem um número de faltas acima do desejado, e, segundo o meu filho, os colegas estão a ficar prejudicados. Pediu-me algumas vezes que tentasse alterar a coisa quando falasse com o Conselho Executivo da Escola, ou assim (que aos 10 anos as mães que estão em todas ainda têm super-poderes), mas como eu não o fiz – principalmente porque já não estou com a Directora de Turma há algum, tempo, e esse assunto seria tratado com ela – o meu infante armou-se de coragem e foi ele mesmo tratar do assunto. Mas morreu na praia, a senhora disse que não ia fazer nada sobre o assunto. E a criança ficou descorçoada, sem livro amarelo (vermelho!) para se socorrer de tal injustiça. Sosseguei-o, pois que tinha feito a parte dele, e aplaudi-lhe o esforço. E a coragem.
Caramba, não é todos os dias que uma pessoa tem “coisos” para tomar uma atitude assim – e ainda para mais uma pessoa de 10 anos!
E é claro que vou falar nisso com a Directora de Turma agora na reunião da Páscoa, depois de verificar a contabilidade das faltas da professora em causa, e das notas dos colegas.
Gente assim, de pêlo na venta, até nos faz acreditar no futuro, não é?
Fátima
(uma mãe inchadíssima!...)