Falta de...patine!
Bom, acabei de chegar das minhas compras semanais no hiper, e quando nos dirigíamos para o parque de estacionamento, o Vítor comentou, a propósito de uma senhora que se tinha acabado de cruzar connosco quando saía da Zara: “Bolas, há pessoas que se produzem demais!”. Fiquei “???”, e pedi-lhe que explicasse o que queria dizer. “É pá, aquilo é novas tendências dos pés à cabeça, não há ali nada que não seja ‘porque se usa’… uma peça ou duas ainda vá, mas aquilo é um exagero!”
Concordei. Por acaso reparei na senhora, uma ‘tia’ entrada nos 50 (não sei se ‘cinquentinha’ se ‘cinquentona’, que nas ‘tias’ isso é um bocadinho ambivalente…), toda “produzida”, como o Vítor disse, tipo corta-e-cose de meia dúzia de revistas de tendências. Ou então, tinha “batido” as lojas mais fashion, e aparentemente, não havia ali nada que não tivesse acabado de sair da prateleira de uma delas.
Numa palavra, a senhora estava aquilo que eu penso que ninguém quer/deve estar quando tem assim a modos que uma idade respeitável – e os meus recentes quarenta também encaixam nessa equação. Numa palavra: descaracterizada.
Existe um certo “must” no facto de aumentar a idade (ó para os eufemismos que eu arranjo só para não usar o termo ‘envelhecer’): a patine que só os anos, a vivência, trás. Com ela, vem a sedimentação dos lugares onde estivemos, das situações que vivemos, do que aprendemos, do que nos marcou, do que não vem nos livros mas se instala debaixo da nossa pele e, qual nódoa teimosa, não sai mais.
E isso salta à vista. Chama-se estilo. O estar na moda depende da cart€ira, o estilo, não. Diz Coco Chanel que o luxo não é o oposto de pobreza, mas sim o oposto de vulgaridade. E parecendo que não, mesmo não estando a falar de luxo, esta paráfrase encaixa aqui na perfeição. Pergunto eu o que está debaixo das peças de roupa trendy que a tia vestia. Não havia sinal contrário à ideia de que quando, no final do dia, despir e pendurar a roupa, pendura também a si própria, o cunho pessoal que não mostra, o nada - que nada aparentemente contraria – que é por dentro.
(Que horror até parece que estou para aqui a ‘cortar na casaca’ de alguém que não conheço de lado nenhum).
A verdade é que, como aquela tia, há um sem número de tias e menos tias que em meio às revistas de tendências e às prateleiras de lojas procuram um ‘eu’ que lhes encaixe… ainda que por uma estação. E que quando saírem as próximas colecções, vão despir este que criaram, e vão enfiar o novo eu que os criadores mandarem.
Sem cunho pessoal, sem personalidade visível, sem a patine do vivido.
E isso, desculpem, mas eu acho que mais que um bocadinho, é MUITO triste.
Fátima
P.S. Ah, ontem na minha aula de condução, o instrutor levou-me para a auto-estrada…
Uh-uhhhhhhh!
Espectáculo! Então ultrapassar pesados é cá ‘ma coisa! A gente até consegue apalpar a adrenalina!
Uau!