Seg | 03.02.14
Michael Bublé Day parte 2/2 ou Como o bom pode ser Ótimo, e o ótimo às vezes é inólvidável
Fátima Bento
{Ponto prévio: sou fã de Michael Bublé desde o primeiro álbum. Dou grandes tareias de MB a todos cá em casa - não têm outro remédio senão gostar - e é a musica que oiço na praia, a que ouço em casa quando cozinho, quando trabalho no teclas, quando tenho frio, calor, quando estou alegre, quando estou triste. Ir a um concerto de Michael Buble é, per si, um sonho tornado realidade e é difícil passar para aqui o que foi o concerto de ontem sem extrapolar na utilização de adjetivos.}
Mas, dito isto, a verdade é que fui sem expectativas de maior: afinal é um show protagonizado por um crooner e uma orquestra, certo? O que é que um cantor e uma banda podem fazer de extraordinário? Levava na memória o concerto em video 'Caught in the act' e uns pequenos apontamentos que fui apanhando aqui e ali, e que mostravam o quanto o rapaz é simpático, descontraído, talentoso e gosta de interagir com o publico, mas ainda assim não deixava de ser um homem e uma banda. Com uma secção de metais, uma secção de cordas, e pronto.
Repito a pergunta a que hei-de responder mais à frente:
Um tipo e uma orquestra. O que é que podem fazer?
Começando pelo começo: espétaculo marcado para as 20:00h. 19:50h, somos 'mandados' sentar para a coisa começar.
Primeira surpresa: o quê, vai começar a horas?
Começou.
Mesmo às 20:00h.
Para aquecer a plateia tivemos o prazer de ver atuar os 'Naturally 7', banda de New York, que canta à capella. Completamente à capella.
[Nota: vale mesmo a pena procurá-los no You Tube].
Coisa de 45 minutos depois despedem-se, ilumina-se o recinto e ficamos à espera da estrela da noite. Nesta altura aproveito para fotografar a Meo Arena
Esgotadíssimo, como se pode depreender. Na segunda foto podemos ver o que parece ser o 'pit' onde as camaras fixas que transmitiam para os jumbotrons e a demais parafernália era 'comandada', e onde estavam os acompanhantes do artista e dos músicos, e que ficava na ooooouuutraaa ponta da Arena.
21.10h o publico começa a manifestar-se. Passados dez minutos, se tanto, apagam-se as luzes e levanta-se um pouco da cortina para nos mostrar o cantor atrás do microfone a cantar uma canção 'estranha' para inicio de concerto - tanto quanto me lembro, 'Try a little tenderness'. Franzo o sobrolho, que raio de maneira de começar. Acaba a canção, baixa o espaço por onde o vimos e entra a pirotecnia, uma dezena de labaredas de que senti a temperatura, e quando damos por nós, o pano já não está lá, está o homem, a banda, e ouve-se 'Fever'. Ainda não é desta que me levanto, vou cantando. Sem tempo para aquecermos, 'Haven't met you yet' faz-se soar - apostava que aquela estaria no bolso para o encore. Sinto-me baralhada. Satisfeita, estou ali, a ouvir 'O' Michael Bublé, mas acho que está tudo estranho. Penso que estive quase a dar €120 por um bilhete para a fila O da plateia e sinto-me bem com a opção que fiz.
Sem problemas, Michael fala connosco que diz (e é verdade) sermos um dos melhores públicos, e que toda a gente que cá vem diz o mesmo. Sim, já sabemos que é assim, somos bons, e mesmo que não fossemos, passávamos a ser. Começam as piadas do costume, e às tantas, não percebo se fomos nós se foi o show, mas tudo se conjuga. Os jogos de luz, a movimentação em palco... a temperatura sobe, os flashes e os écrans dos telemóveis continuam a ver-se, e estamos todos num jogo em que todos os detalhes jogam, contam, tudo estudado ao pormenor, e aquele início "falsamente descoordenado" começa a fazer sentido para gerar o crescendo.
E aqui gostava de me lembrar em que momento, em que musica, ele desce do palco e atravessa a arena (e isto não é novidade, pode até dizer-se ser habitual). Vai distribuindo toques, beijos rápidos, rodeado por um batalhão de seguranças para, fundamentalmente abrir caminho e garantir o timing... Michael sobe ao outro palco - que afinal era o que 'aquilo' era, por respeito para quem de tão longe via tão pouco, e onde já estavam os elementos dos Naturally 7.
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E sai uma mão cheia de musicas, uma delas à capella com os sete, e no meio de tanto deslumbramento, de tanto planeamento, Bublé volta a atravessar a Arena ao som de 'All you need is love' dos Beatles, e quando sobe ao palco e começa a cantar, cai uma imensa chuva de milhares de confettis tamanho XL na forma de corações sobre toda a plateia.
Aqui vacilo pela primeira vez: canto? danço? aplaudo a compasso? Puxo do telemóvel? Pois que consegui fazer tudo e... resultou na perfeição.
Daqui ao encore, não há tempo para arrefecer ânimos, para a adrenalina quebrar, nem quando as musicas são mais românticas e calmas. Michael ama o publico, o publico devolve com juros.
Hora do encore, ele retira-se, a orquestra mantém-se no lugar, Bublé entra sem o papillon nem o casaco do smoking, mas com um blaser de sequins. A produção visual esmera-se, as estrelas alinham-se, tudo, tudo, TUDO está certinho, correto, perfeito.
Para a útima musica o artista, visivelmente emocionado escolhe 'Song for you', porque é, segundo o próprio, a última atuação da tour, e é Portugal, e é por isso. E ISSO, é a letra da canção, a mensagem, uma canção dedicada a nós todos.
No solo, o saxofone toca no 'palco B'. Quando voltamos a olhar para o palco onde o cantor se encontra, Bublé está sózinho, com a cortina já fechada, sem a orquestra, larga o micro, pede silêncio, arranca o auricular e, sem qualque suporte sonoro, enche a Meo Arena com a sua voz.
SÓ A SUA VOZ.
Acaba, acena, agradece, recua, entra pela abertura por onde tinha surgido no inicio do show.
Atiramos a casa abaixo com aplausos e bravos, mas ninguém se atreve a pedir mais um encore: fica ali claro que
ELE DEU TUDO.
E não se pede mais a quem se dá por inteiro.
E é essa a única resposta à pergunta que fiz no inicio do texto:
O que é que um cantor e uma banda podem fazer de extraordinário?
TUDO.